O Brasil tem enfrentado uma escalada preocupante de fraudes financeiras que afetam diretamente aposentados, pensionistas e investidores. Casos de descontos indevidos em benefícios do INSS e débitos automáticos não autorizados por bancos acenderam o alerta sobre a vulnerabilidade dos consumidores diante de sistemas automatizados e pouco transparentes.
Em meio a esse cenário, o Futuro On-line ouviu dois especialistas: Flávio Souza, doutor em Engenharia Elétrica, professor da Una Cristiano Machado (MG), coordenador e cofundador de programas de inovação no Ânima Lab HUB, e Vaníria Ferrari, economista, mestre em Administração e professora da Una Contagem (MG). Ambos detalharam alguns serviços e facilidades que podem ser alvo de armadilhas financeiras. A educação financeira, o uso consciente da tecnologia e a atenção aos detalhes são as principais ferramentas de defesa.
Serviços bancários: onde mora o risco silencioso
Ao contratar pacotes bancários, muitos consumidores não anotam quais tarifas estão incluídas, nem acompanham se estão sendo cobradas corretamente. TEDs, transferências e operações simples podem gerar taxas que passam despercebidas — especialmente quando os valores são pequenos e recorrentes.
“Outro erro é ao fechar um pacote com o banco, não saber e nem anotar quais são as tarifas que foram contratadas. A maioria das fraudes e dessas cobranças indevidas vem de valores insignificantes porque a pessoa não tem ideia de quais são os valores da cesta de tarifas”, alerta Vaníria.
A especialista também lembra sobre outra cobrança que pode passar alheia no extrato bancário, a do seguro para cartão e até mesmo de vida, que nunca foi solicitado ou foi aceito sem perceber, ao clicar em ofertas dentro dos aplicativos bancários. O mesmo vale para programas de pontos pagos, que em diversas ocasiões são ativados automaticamente. “Frequentemente, a pessoa contrata sem ler e sem perceber o débito acontece. Ou ela não contratou e aquilo foi lançado de forma errônea. As ofertas aparecem no aplicativo e, sem atenção, o consumidor aceita cobranças que não queria efetivamente”, explica Vaníria.
“É muito importante ler os contratos. São as letras miúdas que geralmente falam sobre algum tipo de cobrança.”
Débito automático: praticidade com armadilhas
Nesse aspecto, uma solução que é vista como prática, pode se tornar um problema, como lembra Flávio. “O débito automático é prático, mas pode esconder armadilhas. Às vezes, o consumidor nem sabe que autorizou e só descobre quando o saldo não bate”.
Por trás da comodidade, podem surgir cobranças duplicadas, serviços recorrentes sem aviso e taxas inesperadas. O consumidor precisa estar atento ao que está sendo debitado e manter contato direto com as empresas envolvidas.


Investimentos: atenção às taxas e contratos
Quem investe também precisa estar atento às cobranças ocultas. Taxas de administração, corretagem e serviços adicionais podem ser incluídos nos contratos sem clareza. “Se a pessoa tem investimento, é importante verificar se há alguma taxa de administração contratada e qual o valor de imposto de renda. Ler com atenção o contrato é fundamental para não ser pego de surpresa com descontos na aplicação”, orienta Vaníria.
Aplicativos bancários e o risco do phishing
Um aliado na vigilância das finanças são os aplicativos bancários, pois eles permitem acompanhar saldos, transações e identificar movimentações suspeitas. No entanto, é preciso cautela com links enviados por e-mail ou SMS — muitos deles são phishing, uma técnica de fraude digital que simula comunicações legítimas para roubar dados ou instalar vírus, como alerta Flávio. “Os apps são bons rastreadores de movimentações, mas o consumidor precisa entrar neles com frequência e nunca clicar em links suspeitos. Isso pode ser phishing disfarçado de cobrança.”
O que fazer ao identificar uma cobrança indevida
Ao perceber uma cobrança suspeita, a pessoa deve reunir provas — como prints, comprovantes e protocolos — e entrar em contato com a instituição responsável. “Saber o que foi contratado é essencial. Os bancos em diversas ocasiões resistem ao estorno, então é preciso ter tudo anotado e registrado para comprovar que aquela cobrança não deveria existir”, indica Vaníria.
Criar o hábito: o melhor antídoto contra fraudes
Identificar e contestar uma cobrança indevida é um passo importante, mas não deve ser o único. Para evitar que esse tipo de situação se repita, é essencial adotar uma rotina de acompanhamento financeiro. Criar o hábito de revisar extratos e faturas com frequência, anotar todas as assinaturas e serviços contratados — desde plataformas de streaming até serviços de nuvem — é a forma mais eficaz de se antecipar às fraudes e manter o controle sobre o que entra e sai da conta. “Pelo menos duas vezes por mês, faça uma verificação do extrato, confira todos os meses as faturas de cartão de crédito e anote tudo o que foi contratado. Pode ser assinatura de TV, Netflix, revista ou até memória do Google. Tudo deve ser anotado e comparado”, recomenda Vaníria.
Mesmo quem não tem familiaridade com tecnologia pode adotar medidas simples para evitar golpes. Verificar o remetente de e-mails, evitar abrir links em celulares e buscar ajuda de pessoas de confiança são atitudes que fazem diferença. “Se você tem dúvida, não abra no celular. Vá para o computador, veja com calma o e-mail e o remetente. Se caiu no spam, já é um indício de que pode ser golpe. O phishing mexe com a ansiedade e o emocional — por isso, vá com calma”, orienta Flávio.

Educação financeira: o escudo mais poderoso
Além do hábito de revisar a conta, a melhor proteção é o conhecimento. A educação financeira é o ponto de partida para decisões conscientes, controle de gastos e prevenção de fraudes. Segundo Flávio, o comportamento da pessoa é tão importante quanto qualquer sistema automatizado. “A inovação ajuda, mas é a educação financeira que torna o consumidor mais ativo na gestão dos seus investimentos e benefícios. Saber com que se gasta, o quanto e onde garante autonomia para identificar o que está errado”, afirma. “A educação financeira permite um controle financeiro diário e com isso é possível evitar prejuízos e manter os benefícios e investimentos protegidos”, finaliza Vaníria.”
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Sempre alerta!
Quando o assunto é investimento, sua análise precisa se basear no momento pelo qual passa o mercado financeiro, nas características da aplicação, e na adequação ao seu perfil de investidor. Os desempenhos, sejam de sua carteira pessoal ou da sua modalidade de investimento no plano de aposentadoria da Funsejem, devem ser considerados apenas como referência de gestão, e não como fator determinante para sua escolha, pois resultados passados não garantem rentabilidade futura.

Flávio Souza, doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Engenharia Elétrica, na linha de pesquisa de Otimização pela UFMG. Graduado em Sistemas da Informação pela Faculdade Infórium de Tecnologia. Professor do Centro Universitário UNA Cristiano Machado (MG). É cofundador/coordenador do departamento de inovação Ânima Lab HUB, empreendedorismo de base tecnológica, aplicado às áreas do conhecimento.

Vaníria Ferrari, economista, professora da Una Contagem (MG) e mestre em Administração com foco em Estratégia. Possui experiência de mais de 15 anos em instituições financeiras, atuando nas áreas de Gestão de Risco de Crédito. Consultora financeira há 18 anos, atua na organização, estratégia, planejamento financeiro e captação de recursos.