Renda variável: o papel estratégico nas carteiras previdenciárias

Em entrevista ao Futuro On-line, Leticia Albuquerque, gestora de FoF (Fundos de Fundos) e Renda Fixa da Tivio Capital, instituição financeira responsável por parte dos investimentos da Funsejem, explicou os fundamentos da renda variável, os pilares da estratégia adotada para a carteira da Fundação e os desafios e as oportunidades desse tipo de investimento em cenários de juros elevados.

O que é renda variável

Renda variável é uma categoria de investimento cujo retorno não é previsível ou fixo. Os ativos oscilam ao longo do tempo, refletindo fatores diversos como resultados das empresas, cenário macroeconômico e ciclos de juros. No caso das ações, é como se o investidor se tornasse sócio de uma empresa de capital aberto, participando dos lucros e da valorização do negócio. “Investir em ações significa adquirir frações do capital social de uma empresa negociada em bolsa. É se tornar sócio de uma companhia e participar dos seus resultados”, explica Leticia.

Fatores que influenciam a performance

A volatilidade é uma característica marcante da renda variável. Os preços das ações variam conforme os resultados das empresas, o cenário de juros e as expectativas econômicas. “O maior impacto que vemos no retorno das ações a longo prazo é, de fato, o resultado das empresas — crescimento de lucros e receitas. A volatilidade existe, mas o potencial de valorização compensa em janelas mais longas”, afirma.

Nesse sentido, o longo prazo é fator determinante para o sucesso dos investimentos em renda variável. Segundo a especialista, essa classe de ativos exige uma visão estendida — de três a cinco anos — para que seu potencial de valorização se manifeste. “Não dá para acompanhar a renda variável sob a ótica do retorno mensal, porque há muita volatilidade ao longo do tempo”, afirma. Justamente por isso, ela destaca que, apesar dos riscos e oscilações, os investimentos em ações tendem a superar os mais conservadores, como a renda fixa, quando observados em janelas mais longas. A disciplina de manter o investimento, sem resgates precipitados em momentos de baixa, é essencial para capturar os ganhos que essa classe pode oferecer.

Renda variável em carteiras previdenciárias

A volatilidade da renda variável pode ser desafiadora no curto prazo como destacou Leticia, mas em períodos mais longos é quando seu potencial de valorização se revela. Essa característica torna a renda variável uma aliada estratégica nas carteiras previdenciárias, voltadas à construção de patrimônio ao longo do tempo.

“Ela tem um papel importante de compor capital ao longo do tempo, mas precisa estar muito bem enquadrada no perfil do participante. Para perfis conservadores, a alocação deve ser menor”, orienta.

Essa visão de longo prazo é um dos pilares que sustentam a presença da renda variável na carteira da Funsejem. A Fundação, em parceria com a Tivio Capital, estrutura sua alocação por meio de uma seleção criteriosa de fundos de ações, buscando equilíbrio entre consistência e potencial de valorização.

A estratégia da Tivio Capital para a Funsejem

O portfólio de renda variável da Funsejem é composto por cerca de nove fundos, selecionados pela área de Fundos de Fundos (FoF) da Tivio Capital. A estratégia combina gestores que seguem o índice Ibovespa com outros focados em valor — empresas negociadas com desconto frente ao seu valor justo. “Buscamos entregar uma carteira diversificada, com estratégias distintas e complementares. Parte relevante está em gestores Ibovespa ativo, e outra em gestores que buscam oportunidades de assimetria de retorno”, explica Leticia. “Setores como energia elétrica, financeiro e saúde têm ganhado espaço nas estratégias de valor, por apresentarem resiliência e oportunidades de valorização em cenários desafiadores.”

Essa composição permite à Funsejem capturar ganhos em diferentes cenários, mantendo o alinhamento com o perfil institucional da fundação e com os objetivos de longo prazo dos participantes.

Desafios e erros comuns

Nesse sentido, equilibrar as oscilações com a necessidade de retorno consistente, especialmente em fundos de pensão, é um dos principais desafios da renda variável. No campo dos erros mais comuns, Leticia aponta três atitudes recorrentes que comprometem os resultados:

Leticia reforça que o sucesso na renda variável depende de uma combinação entre perfil adequado, visão de longo prazo e uma estratégia bem estruturada — sem decisões impulsivas ou tentativas de prever o mercado.

Oportunidades em cenários de juros altos

Mas você deve estar se perguntando, para que falar de renda variável, se a atratividade do mercado está para a renda fixa em momentos de juros elevados? Nesse aspecto, a especialista vê na renda variável uma oportunidade para investidores com visão de longo prazo. “É justamente nesse momento que enxergamos os maiores descontos. O cenário de juro alto pode ser uma janela de entrada para capturar ganhos no próximo ciclo de queda”, afirma. “Apesar de o cenário de juros altos, em geral, reduzir a atratividade da renda variável, existem setores que se beneficiam desse contexto — como o financeiro e o de seguradoras. A grande vantagem de investir via gestores de ações é contar com equipes qualificadas de pesquisa, capazes de identificar as melhores oportunidades em cada ciclo econômico. O papel da gestão ativa é justamente montar a carteira mais eficiente, seja em momentos de juros altos ou baixos.”

Construção de valor a longo prazo

É por isso que Leticia considera a renda variável uma aliada na construção de patrimônio. “A renda variável deveria fazer parte de uma boa carteira de investimentos. Além de trazer diversificação, ela oferece um potencial muito interessante de geração de valor ao participar do crescimento das empresas e do mercado de capitais brasileiro.”

No entanto, ela reforça que esse tipo de investimento não é para todo mundo. A volatilidade exige preparo emocional, disciplina e uma estrutura de portfólio que permita atravessar ciclos adversos sem comprometer a estratégia.

“Se o investidor não tem tolerância à oscilação ou precisa de liquidez imediata, a renda variável não deve ser a principal alocação. É essencial ter uma reserva de emergência e uma composição equilibrada com ativos mais conservadores”, orienta a especialista.

Leticia também destaca que o momento de vida do participante deve ser considerado. “Quando o investidor está mais próximo da aposentadoria, é natural que ele busque um perfil mais conservador. Tudo precisa estar alinhado com o momento do participante e com as outras reservas que ele possui”, afirma. “Para quem tem perfil e horizonte de longo prazo, a renda variável pode ser uma peça-chave na construção de valor, desde que usada com consciência, estratégia e consistência.”

  • Sempre alerta!

    Quando o assunto é investimento, sua análise precisa se basear no momento pelo qual passa o mercado financeiro, nas características da aplicação, e na adequação ao seu perfil de investidor. Os desempenhos, sejam de sua carteira pessoal ou da sua modalidade de investimento no plano de aposentadoria da Funsejem, devem ser considerados apenas como referência de gestão, e não como fator determinante para sua escolha, pois resultados passados não garantem rentabilidade futura.

Leticia Albuquerque possui cerca de 25 anos de experiência na gestão de recursos. Antes de ingressar na Tivio Capital como gestora de FoF e Renda Fixa, foi sócia e diretora de investimentos no family office Focus Invest, onde liderou a definição de estratégias e a alocação dos recursos. Sua trajetória combina profundo conhecimento em asset allocation, mercado de capitais e planejamento patrimonial, com foco em soluções personalizadas para investidores sofisticados.