O desafio de 2020 é constante, mas para o gestor BNP Paribas isso está longe de ser uma encruzilhada. Ainda que não sejam fáceis, as saídas existem, desde que se considere o horizonte de visão mais curto imposto pela pandemia, e que aos poucos vai se abrindo.
Foi com base nessa premissa que Tiago Cesar, Gestor de Fundos, e Aquiles Mosca, Head Comercial, apresentaram as demais estratégias do banco, aprendizados e visões para 2021. Dentre eles: alta diversificação na carteira, acompanhamento diário, precaução e paciência. Neste sentido, eles ainda destacam as armadilhas da ansiedade entre os investidores que alteram perfis de investimento nos períodos de fortes oscilações de resultados, assumindo perdas irrecuperáveis.
Gestão em mares revoltos
Tiago: “A crise da covid-19, por ser nova e intensa, reverteu quase todas as correlações e estatísticas do passado. Os deslocamentos de preço foram muito violentos em março, tivemos seis circuit breaker, que é a paralisação dos negócios na Bolsa quando o Ibovespa cai mais de 10%.
De lá para cá, temos adotado uma postura cautelosa, de preservação de capital, com atuação em horizontes mais curtos, e muita diversificação na composição de portfólios. Foi uma das grandes lições da crise, e necessária, porque nesses momentos os investidores querem respostas mais rápidas.”
Injeção de ânimo
Tiago: “Nós nos desfizemos de Bolsa no começo de abril, depois de recuperar um pouco do piso. A partir dali, fomos recompondo os retornos com o que volta naturalmente, claro, e com um exercício de gestão ativa. Nossa equipe nunca negociou tanto. E obtivemos retorno, a carteira voltou ao campo positivo, já temos resultados acima do CDI.
Os meses seguintes trouxeram uma injeção importante de liquidez no mundo inteiro. Traçando um paralelo interessante, estima-se que na crise internacional dos subprime de 2008 (empréstimos hipotecários de alto risco) 10 trilhões de dólares foram usados para salvar bancos, empresas e a economia como um todo. A atual pandemia já teve um custo estimado na ordem de 20 trilhões de dólares. Mas sendo uma crise sanitária, criou-se uma espécie de licença para gastar. O mundo tolera então uma relação dívida/PIB mais elevada e tem entrado muito dinheiro no sistema, medida fundamental para melhorar os preços dos ativos e segurar os mercados.”
Crédito privado: susto e recuperação
Tiago: “Uma parcela fundamental da nossa carteira com a Funsejem e carro-forte do BNP é o crédito privado (títulos emitidos por empresas privadas), uma classe que historicamente não tinha volatilidade. Ela era associada com estabilidade, reserva de caixa e baixo risco, até que a crise colocou isso a teste.
Todas as perdas de março e abril no mercado de crédito privado, porém, tendem a se reverter. Quando você tem uma pressão vendedora como nesta crise, sempre alguém compra. Nós já aproveitamos para fazer uma recomposição, aproveitando o que o mercado oferecia de preço deprimido, de olho na recuperação.”
Juro baixo é mundial
Tiago: “A taxa de juros Selic está bem acomodada, mas ainda trabalhamos com um corte de 0,5%, de impacto já bastante tímido. A gente vive um período deflacionário, a projeção de IPCA para o ano de 2020 é 1,8%. Na verdade, o juro em vários países está baixo, porque o mundo vem apresentando crescimento pífio há muito tempo.
A consequência disso é que o retorno será menor para os ativos de baixo risco. E aí você tem duas saídas, ajustar seu padrão de vida para gastar menos, ou assumir alguns tipos de risco.
Em algum momento, a Selic voltará a subir, especula-se que o juro de equilíbrio no Brasil é muito próximo de 5%, 6%. Enquanto isso, nós remuneramos escolhendo ativos conforme seu comportamento e potencial de retorno, usando uma “lupa” enorme para esse trabalho.”
Hoje, continuamos carregando um pouco de NTN-B (título público indexado à inflação), pensando no prêmio de longo prazo. Para o mercado de crédito, os prêmios estão maiores, na média de nossas carteiras, CDI mais 2%. Com as novas emissões, e a gente conseguindo manter um bom padrão de escolhas, dá para obter ganhos e fazer uma pequena gordura. Além disso, a gestão ativa de renda fixa é outro componente central na busca por retornos.
Perfis: as armadilhas das mudanças
Aquiles: “O ano de 2020 começou na tendência favorável e positiva dos últimos três anos, com muitos indo para a Bolsa, que faz qualquer pessoa ganhar dinheiro quando está em alta. E então chega março, e nossa Bolsa perde 36% no auge da crise.
Nesse momento, a gente observa uma série de armadilhas, como o excesso de iniciativa e ansiedade que podem pegar o participante do plano de previdência de calça curta. Muitos migraram para o perfil conservador no meio da crise, uma das piores decisões. Não se deve mudar de perfil de investidor porque o mercado flutuou. Perfil de investimento é perene, depende do seu momento de vida. Eu sou um jovem de 20 anos ou uma pessoa com 60 anos, próximo da minha aposentadoria? São questões de personalidade que definem intolerância a risco e não o sobe e desce do mercado.
A maioria dos investidores fica sempre querendo realocar para o perfil que rendeu melhor no último período. No caso da Funsejem, um fundo de pensão, o investimento é para a aposentadoria. É preciso ter cabeça fria no momento de flutuações muito fortes e manter o manche firme. Quem saiu do alto risco para um perfil conservador no pico desta crise não vai recuperar a perda na renda fixa. Dinheiro que se perde na Bolsa se recupera na Bolsa.”
Perfis: quando mudar
Aquiles: “Só é justificável a mudança, quando o indivíduo percebe que realmente está no perfil errado. Ninguém gosta de perder dinheiro, mas o investidor que corre risco na busca por um retorno maior, precisa entender que em determinados momentos as perdas são indissociáveis. É preciso saber conviver com elas dentro de um certo grau de conforto. O que muitos farão agora que a Bolsa está se recuperando é mudar para os perfis agressivos. Ou seja, essas pessoas vão ter vendido barato, na queda, para comprar caro e voltar na alta.
A grande charada é nunca tomar decisão olhando só para trás. Quando a Bolsa está melhor, você deve analisar se ela já não está no limite, se não é o caso de esperar uma queda para então entrar. O investidor que olha para o retrovisor sem essa análise corre o risco de entrar em uma festa bem na hora em que ela está terminando.”
2021: fôlego e paciência
Tiago: “O momento de queda é mesmo mais intenso que o de volta. É preciso ter paciência e pilotar na ponta dos dedos. O mercado de ações ainda não retomou totalmente o piso que tínhamos antes de março, mas uma grande parte do movimento voltou.
Outro ponto, as grandes empresas estão aproveitando o juro baixo para refinanciar suas dívidas longas. Elas têm acesso a crédito baixo, há anos vêm se preparando para crises e cortando custos, e com isso têm conseguido entregar retornos. Esta combinação é um dos motivos pelos quais a Bolsa está neste patamar de 100 mil pontos, mesmo com o PIB em queda.
Por fim, não temos vacina para a covid-19, é fato, mas o tratamento e a capacidade hospitalar evoluíram muito, trazendo expectativas positivas. Então diante disso tudo, nossa percepção é de que o preço dos ativos continue subindo, apesar da recessão econômica. Ano que vem, teremos um mundo de crescimento baixo, inflação baixa e juro baixo, mas com dinheiro disponível. Vai ser o ano talvez dos investimentos alternativos, do empreendedorismo, de uma retomada. O cenário vai ser de fôlego e convidativo para a compra de ativos.”
-
Sempre alerta!
Quando o assunto é investimento, sua análise precisa se basear no momento pelo qual passa o mercado financeiro, nas características da aplicação, e na adequação ao seu perfil de investidor. Os desempenhos, sejam de sua carteira pessoal ou da sua modalidade de investimento no plano de aposentadoria da Funsejem, devem ser considerados apenas como referência de gestão, e não como fator determinante para sua escolha, pois resultados passados não garantem rentabilidade futura.