Transformando ambientes de trabalho: o papel da saúde ocupacional no bem-estar corporativo

Na busca por ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos, a saúde ocupacional tem se destacado como um pilar fundamental. Em entrevista conosco, o doutor Ricardo Turenko, diretor de Relações Institucionais da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), explorou a importância e os desafios dessa prática essencial.

O que é saúde ocupacional

“A saúde ocupacional é uma área da saúde responsável pela promoção e manutenção do mais alto grau de bem-estar físico, mental e social de todos os trabalhadores. O foco principal sempre vai estar na prevenção de doenças e acidentes relacionados ao trabalho, e, é claro, em fazer os ambientes de trabalho cada vez mais seguros e saudáveis”, explica Ricardo Turenko.

A eficácia de um bom cuidado com a saúde ocupacional não se limita, porém, apenas à prevenção, mas também à melhoria do bem-estar geral dos trabalhadores, o que resulta em menos estresse, maior satisfação e produtividade. “Já é um fato mais do que comprovado que trabalhadores saudáveis são mais produtivos e engajados, ou seja, todos ganham”, reforça o médico especialista.

Ainda segundo Turenko, para promover a saúde nesse âmbito, é necessário considerar a realidade de cada ambiente que se deseja melhorar, “de preferência focando nas ações primárias de prevenção, como: incentivo à prática de atividades físicas, atendimento psicológico, exames periódicos abrangentes, e campanhas de saúde”.

Desafios no Brasil

O Brasil, no entanto, com sua vasta extensão geográfica e diversidade econômica, enfrenta desafios únicos nesse sentido. As regiões e zonas mais afastadas e rurais têm menos acesso a serviços adequados de saúde ocupacional, comenta Turenko. Além disso, a informalidade no emprego e a falta de profissionais qualificados complicam a implementação de práticas de segurança. Pequenas e médias empresas podem encontrar dificuldades financeiras para investir em programas robustos de saúde ocupacional.

“Eu sou nascido e criado no Amazonas, e posso falar por experiência própria que este distanciamento geográfico afeta não só a obtenção de recursos e serviços, mas também a própria formação educacional para as equipes que atuam na área de SST (Saúde e Segurança do Trabalho), que muitas vezes não conseguem participar de congressos, seminários e cursos de especialização que em geral são oferecidos nas regiões do sudeste do nosso país. Em alguns estados e municípios, simplesmente não encontramos profissionais qualificados e especializados que possam atuar”, destaca Ricardo Turenko.

A conscientização sobre saúde ocupacional tem efeitos positivos significativos, como:

Porém, na opinião do médico especialista, apesar do país possuir uma das melhores e mais abrangentes regulamentações de saúde e segurança ocupacional, “garantir a conformidade legal representa um grande desafio, especialmente para as pequenas e médias empresas”.

“Obviamente, a questão dos recursos financeiros (incluindo a falta de acesso a profissionais de saúde ocupacional qualificados) também é um grande obstáculo”, destaca o doutor.

O investimento em ações de saúde ocupacional pode ser uma dificuldade enfrentada por muitas empresas, por isso, “os profissionais que atuam na área de SST devem sempre buscar mostrar da melhor forma o retorno financeiro desses investimentos”.

Ambientes ergonomicamente projetados, suporte psicológico, políticas de equilíbrio entre vida profissional e pessoal e programas de bem-estar são o mundo ideal. Além disso, Turenko destaca a importância de ambientes de trabalho acolhedores e reconhecimento regular dos trabalhadores.

O papel dos programas de saúde ocupacional

Programas de saúde ocupacional desempenham um papel crucial na prevenção de doenças e acidentes de trabalho. Eles começam com a identificação e avaliação detalhada dos riscos no ambiente de trabalho, seguidos de planos de ação para mitigá-los. Treinamentos contínuos e monitoramento regular também são importantes para manter os padrões de segurança, ressalta o médico.

"Quando os trabalhadores percebem que a empresa se preocupa verdadeiramente com o bem-estar deles, há um aumento na satisfação e na lealdade dos trabalhadores que vão ‘vestir a camisa’ da empresa, criando um ambiente de trabalho mais positivo, motivado e colaborativo", afirma Turenko.

Passado e futuro

Há um tempo, a pandemia de covid-19 mudou significativamente a percepção da saúde ocupacional. “A Saúde Ocupacional e os profissionais que atuam na SST passaram a ser vistos não só para garantir a conformidade com as normas, mas como uma prioridade estratégica essencial para a produtividade e a continuidade dos negócios”, diz Turenko. Algumas empresas adotaram protocolos de segurança rigorosos e investiram em apoio psicológico, trazendo a saúde mental para o primeiro plano.

Ao pensarmos em futuro, avanços tecnológicos, saúde mental, trabalho flexível e ESG – sigla em inglês que significa Ambiental, Social e Governança – são tendências. Tecnologias como plataformas digitais de saúde, wearables – tecnologias vestíveis (como os smartwatches), IA – inteligência artificial – e telemedicina permitem monitoramento em tempo real e intervenções preventivas. O bem-estar holístico e o uso de big data – conjunto de dados e informações – para prever riscos são inovações que moldarão o futuro da saúde ocupacional: “com estas inovações, as empresas podem identificar tendências, prever riscos e implementar intervenções específicas”, aponta Turenko.

Dicas práticas de bem-estar

Para os colaboradores, Turenko sugere cuidados com a ergonomia, pausas regulares, exercícios físicos, alimentação balanceada, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, e apoio psicológico.

“Tenha um limite claro entre o trabalho e o tempo pessoal! Desconecte-se do trabalho fora do horário de expediente! Deixe um tempo na sua agenda para atividades que promovam a saúde mental, meditação, leitura, ioga ou até mesmo algum hobby, alguma atividade de lazer, distração. Eu, por exemplo, toco guitarra em uma banda há mais de 30 anos com amigos”.

Pequenas ações diárias podem fazer uma grande diferença na saúde e produtividade. Com a saúde ocupacional em foco, empresas e trabalhadores podem alcançar um ambiente de trabalho mais seguro, saudável e produtivo, onde todos saem ganhando.