O Julho Amarelo é o mês dedicado à conscientização sobre as hepatites virais. Criado em 2010 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Dia Mundial das Hepatites Virais é comemorado em 28 de julho, em homenagem à data de nascimento do cientista Baruch Blumberg. Ganhador do Prêmio Nobel de Medicina em 1976, o pesquisador descobriu o vírus da hepatite B, desenvolveu um teste de diagnóstico e a primeira vacina contra a doença.
“O Julho Amarelo é uma campanha histórica idealizada pela Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH). As hepatites virais, principalmente as crônicas, possuem testagem e tratamento com medicamento fornecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Por isso que esse mês de conscientização é tão importante, pois precisamos divulgar mais sobre essas doenças, que costumam ser silenciosas, e suas possibilidades de tratamento”
Destaca a hepatologista Mônica Viana, membro da Comissão de Mídias da SBH.
O que é hepatite
A hepatite é uma inflamação do fígado decorrente de diversas causas, como uso de medicamentos, de álcool e outras drogas. Ela pode ocorrer devido a doenças autoimunes, metabólicas, genéticas e também pode ser causada por meio de infecção viral. “O sufixo ite em medicina sempre significa inflamação. No caso das hepatites virais, elas podem ser causadas pelos vírus A, B, C, D (Delta) e E”, explica dra. Mônica.
Contágio, sintomas, tratamento e prevenção
A hepatite A está diretamente relacionada às condições de saneamento básico e de higiene, tendo como principal via de contágio a fecal-oral. A contaminação se dá, basicamente, com água ou alimento contaminado com esgoto. Também pode ser uma transmissão entre pessoas. É uma infecção leve e se cura sozinha. “Esse tipo de hepatite viral está sendo uma de nossas preocupações com a população do Rio Grande do Sul, que está enfrentando as consequências do desastre climático na região”, aponta a hepatologista.
“Não existe um tratamento específico para a hepatite A. O paciente precisa descansar, cuidar da hidratação, alimentação, evitando frituras, doces, e aguardar o tempo de recuperação do organismo.”
A melhor forma de prevenção para a hepatite A é a vacina, que está disponível no SUS, sendo aplicada aos 15 meses de idade, podendo ser administrada até 4 anos, 11 meses e 29 dias em caso de não vacinação na idade oportuna. “Além disso, é preciso sempre ficar atento à qualidade da água e da higienização dos alimentos que está consumindo, isso vale até para viagens, como idas à praia e outros passeios”, destaca a especialista.
A hepatite B tem maior proporção de transmissão por via sexual e contato sanguíneo. Assim como a hepatite A, também tem vacina disponível contra o vírus no SUS. A primeira dose da vacina contra a hepatite B deve ser administrada na maternidade, nas primeiras 12 horas de vida do recém-nascido. O esquema básico se constitui de 3 doses, com intervalos de 30 dias da primeira para a segunda dose e 180 dias da primeira para a terceira dose. Além da vacinação, o uso de preservativo durante a relação sexual pode evitar o contágio da doença.
“A hepatite B não tem cura, mas tem tratamento medicamentoso que auxilia na progressão da doença e complicações, como cirrose, câncer hepático e morte, disponível no SUS”, explica dra. Mônica. “O tratamento não possui nenhum efeito adverso e o tempo de uso do remédio pode variar de cinco anos a vida toda.”
No caso da hepatite C, a principal forma de transmissão é o contato com sangue infectado. A doença pode causar cirrose, câncer de fígado e morte. Para esse tipo de hepatite, ainda não há vacina disponível para a prevenção. Portanto, para evitar a infecção, é importante não compartilhar com outras pessoas qualquer objeto que possa ter entrado em contato com sangue (seringas, agulhas, alicates, escova de dente etc.). “Já no caso da hepatite C, o tratamento tem início e fim. Ele dura de três a seis meses, com medicamento via oral. Sem efeito adverso, tem índice de cura muito próximo a cem por cento”, detalha a hepatologista.
A hepatite D ocorre apenas em pacientes infectados pelo vírus da hepatite B, que tenham contato com sangue contaminado. A vacinação contra a hepatite B também protege de uma infecção com a hepatite D.
No caso das hepatites B, C e D, existe também a transmissão vertical durante a gravidez e o parto. A amamentação não está contraindicada caso sejam realizadas ações de prevenção tais como a aplicação da vacina no recém-nascido logo nas primeiras 12 horas de vida do feto. “A transmissão por meio de transfusão de sangue ou hemoderivados, muito comum no passado é considerada rara atualmente, pois há um maior controle de qualidade. É quase impossível um sangue destinado a transfusão não ter sido testado para hepatites”, destaca a especialista.
Assim como a hepatite B, a hepatite D não tem cura. O seu tratamento também está disponível pelo SUS. “Tanto os pacientes com hepatite B quanto os pacientes com Delta são acompanhados por mais tempo, pois o vírus pode voltar a circular no organismo, principalmente se for um paciente imunossuprimido, isto é, que tem um risco aumentado de contrair infecções graves devido a tratamentos diversos, desde câncer até a realização de transplante”, aponta dra. Mônica.
Por fim, a hepatite E é transmitida por via digestiva (transmissão fecal-oral). Da mesma forma que a hepatite A, a hepatite E não tem um tratamento específico. O médico saberá prescrever o medicamento mais adequado para melhorar o conforto e garantir o balanço nutricional adequado. Ainda não há vacina para esse tipo de hepatite.
Alguns dos sintomas mais comuns das hepatites virais são cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. “Na verdade, o sintoma mais comum é o cansaço. Por isso é uma doença silenciosa, pois é muito difícil as pessoas darem importância a um cansaço. Nesse sentindo, a testagem é muito importante para que possamos identificar os pacientes crônicos”, alerta a hepatologista. “O olho amarelado que todo mundo espera como sintoma de quem está com hepatite, só aparece quando o paciente já está com um quadro agudo da doença. Infelizmente, muitos pacientes chegam ao consultório com cirrose terminal, com indicação de transplante de fígado. Por isso é tão importante a conscientização sobre as hepatites virais.”
Diagnóstico
O diagnóstico de hepatite pode ser feito por testes rápidos que dão o resultado em até 30 minutos e estão disponíveis pelo SUS. Também existem exames feitos em laboratório.
“Com apenas uma gota de sangue e alguns minutos a pessoa fica sabendo se é ou não portadora de alguma hepatite viral. Faça o teste, o diagnóstico faz toda a diferença para o tratamento adequado e rápido”, finaliza dra. Mônica.