Mente e dinheiro: como organizar as finanças para respirar melhor em 2026

A via de mão dupla que ninguém pode ignorar

A ansiedade que tira o sono, a culpa depois de uma compra por impulso, o medo de não conseguir pagar as contas. Para muitos brasileiros, esses sentimentos não são apenas reflexos de uma vida corrida — eles têm uma raiz comum: o dinheiro. Pesquisas mostram que o estresse financeiro é um dos principais gatilhos para problemas emocionais, e a psicóloga clínica e planejadora financeira, Maria Helena Manso, confirma: a relação entre saúde mental e saúde financeira é uma via de mão dupla ligada ao cotidiano das pessoas.

“No meu trabalho, seja na clínica ou no planejamento financeiro, vejo constantemente como o estresse financeiro é um gatilho para problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão, insônia e até mesmo quadros de burnout. A preocupação constante com contas, dívidas ou a falta de um plano para o futuro gera um estado de alerta contínuo que esgota a energia mental e emocional.”

Por que falar de dinheiro ainda trava?

Dinheiro é tabu cultural e social. Vergonha, medo de julgamento e falta de educação financeira tornam o tema pesado, quando poderia ser um aliado para o bem-estar. Esse silêncio custa caro: sem diálogo, decisões se tomam às cegas e o tema vira um peso emocional.

Panorama Brasil

Em pesquisa da Serasa, realizada em parceria com o Instituto de Pesquisa Opinion Box, em setembro de 2025:

  • 84% dos brasileiros relatam que falta de dinheiro prejudica sua saúde mental
  • 70% já perderam o sono preocupados com dívidas
  • 65% afirmam se esforçar para esconder suas dificuldades financeiras de outras pessoas

Quando as emoções mandam na carteira

Nesse sentido, a especialista explica que entender as emoções é o primeiro passo para desenvolver estratégias para começar a tomar decisões financeiras mais conscientes e alinhadas aos próprios objetivos e valores.

“A organização financeira não é apenas sobre números e planilhas. Ela é uma poderosa ferramenta de autoconhecimento e autocuidado”, afirma Maria.

“Quando as finanças estão em ordem, ou pelo menos sob controle consciente, há uma redução significativa da carga mental.”

Dias, noites, uma vida tranquila

A psicóloga e planejadora financeira destaca que a clareza sobre onde o dinheiro vai e para onde ele pode ir no futuro traz uma sensação de segurança e autonomia, que são pilares fundamentais para uma boa saúde mental. “É a liberdade de saber que você tem escolhas e que está no controle, em vez de ser controlado pelas circunstâncias financeiras.”

No entanto, o histórico de experiências passadas e a falta de educação financeira contribuem para tornar o tema algo pesado e difícil de ser abordado. “Não temos solução simples para problemas complexos. Saúde financeira e mental envolvem uma certa complexidade, pois são atravessadas por uma infinidade de variáveis como: histórico familiar, temperamento do indivíduo, histórico de vida, contextos entre outras. Mas algumas práticas podem ajudar a facilitar o processo e torná-lo mais simples”, indica Maria.

Como transformar o planejamento financeiro em uma prática leve e sustentável

Hábitos que sustentam (e os que sabotam)

No fundo, todas essas dicas de planejamento financeiro só funcionam quando se transformam em hábito. Monitorar gastos, usar a tecnologia, definir metas ou reservar um “Dia das Finanças” são práticas que, repetidas com leveza e constância, deixam de ser tarefas pesadas e passam a fazer parte da rotina. É justamente aí que o planejamento se encontra com os hábitos: escolhas conscientes e intencionais que, ao longo do tempo, sustentam o progresso e evitam que decisões impulsivas sabotem o futuro.

Um hábito financeiro saudável é basicamente quando você faz escolhas com intenção, pensando no que quer conquistar lá na frente. É como dar passos firmes rumo à estabilidade e aos seus objetivos. Já os hábitos problemáticos aparecem quando se age por impulso, só olhando para o agora, e isso acaba afastando a pessoa do que realmente importa. No fim das contas, a diferença está em ter clareza: hábitos conscientes vão te aproximar das metas, enquanto os impulsivos podem atrapalhar o caminho e deixar o futuro mais complicado.

A especialista aponta alguns hábitos Financeiros Saudáveis e os que podem trazer Problemas no longo prazo:

Saudáveis

Consciência e planejamento

Saiba onde o dinheiro entra e sai, crie um orçamento e revise-o regularmente. Não é sobre restrição, mas sobre direcionamento intencional.

Priorização e metas

O dinheiro é alocado de acordo com prioridades claras (necessidades, desejos e investimentos) e metas financeiras definidas (reserva de emergência, aposentadoria, compra de um imóvel), sejam elas de curto, médio ou longo prazo.

Poupança e investimento consistentes

Separe regularmente uma parte da renda, mesmo que pequena, para poupança e investimentos, garantindo segurança futura e crescimento patrimonial. Isso demonstra uma visão de futuro.

Gestão consciente da dívida

Use o crédito de forma estratégica e responsável, evitando dívidas de alto custo (como cartão de crédito e cheque especial) e priorize o pagamento de passivos para não comprometer o futuro.

Consumo consciente

Evite o desperdício e o consumo impulsivo movido por emoções ou pressões externas. Alinhe-se com valores e não apenas com desejos momentâneos. “Identificar o consumo como válvula de escape emocional é crucial para reverter um ciclo que pode ser destrutivo tanto para a saúde financeira quanto para a mental.”

Busca por conhecimento

Estar aberto a aprender sobre finanças, a buscar informações e a adaptar-se a novas estratégias financeiras.
Problemáticos

Descontrole e impulsividade

Não ter clareza sobre os gastos, comprar por impulso sem considerar as consequências futuras, ou usar o dinheiro como uma válvula de escape emocional.

Foco exclusivo no curto prazo

Viver para o presente sem considerar o futuro, gastando toda a renda disponível e não construindo reservas para imprevistos ou objetivos de vida.

Endividamento excessivo e crônico

Viver com base em empréstimos e crédito rotativo, com dívidas que se acumulam e consomem uma parte significativa da renda, gerando um ciclo vicioso de estresse.

Negação financeira

Evitar olhar para extratos, não fazer um orçamento ou ignorar avisos sobre a situação financeira, preferindo viver na ignorância até que a crise se instale.

Comparação social e consumo por status

Gastar para manter aparências ou para acompanhar o padrão de vida de outras pessoas, muitas vezes acima da própria capacidade financeira, na busca por validação externa.

Resistência ao aprendizado

Acreditar que “dinheiro não é para mim” ou que “é muito complicado”, evitando qualquer iniciativa de educação financeira e permanecendo em um estado de dependência ou vitimização.

Vida financeira equilibrada…saúde mental tranquila

No fim, planejamento e hábitos caminham juntos: são escolhas repetidas com intenção que pode te tirar do ciclo de dependência ou vitimização, colocando-o em direção ao equilíbrio. Vida financeira equilibrada significa também mente tranquila. Quando os objetivos financeiros estão alinhados aos valores pessoais, cria-se uma base sólida não apenas para o futuro material, mas para o bem-estar emocional. Como resume a especialista. “Não existe sucesso financeiro duradouro sem saúde mental, e é desafiador ter uma mente tranquila em meio ao caos financeiro. A sua jornada para o equilíbrio não precisa ser dolorosa ou perfeita. Comece por reconhecer que suas finanças são um reflexo de quem você é, de suas emoções e de suas crenças. Não se culpe pelos erros do passado; use-os como aprendizado.”