A ideia de que basta começar cedo e manter contribuições mínimas por longos períodos para garantir uma aposentadoria tranquila ou alcançar a independência financeira é sedutora. Mas, como aponta o professor e coordenador da FAPI – Centro Universitário de Pinhais (PR), Filipe Eduardo Martins Guedes, essa crença pode se tornar desvantajosa com o tempo, pois ignora variáveis cruciais como inflação, juros compostos e mudanças no estilo de vida ao longo do tempo.
“A ideia parece boa à primeira vista, mas na prática não funciona tão bem. Contribuir pouco por muito tempo pode ajudar a juntar um valor, mas dificilmente vai ser o suficiente para garantir uma aposentadoria tranquila ou conquistar a independência financeira”, afirma.
Pensando em mostrar que não basta apenas começar e contribuir pouco, é preciso acompanhar os investimentos e evoluir no valor dos aportes com o passar do tempo, a terceira reportagem da série “O que aprendemos sobre”, te ajuda a entender sobre o mito da contribuição mínima.
O mito da contribuição mínima
É comum pensar o valor é pouco, mas é melhor do que nada. No entanto, contribuir de forma reduzida por um longo período pode parecer uma estratégia segura, mas não garante renda futura suficiente, como aponta o especialista. “O tempo é um aliado poderoso, mas não faz milagre sozinho. As coisas mudam, os custos aumentam, e se não houver uma revisão nos aportes, esse valor investido pode não atender as expectativas e gerar frustração.”
Mas você pode se perguntar: e os juros compostos? Os juros compostos só mostram seu verdadeiro potencial quando os aportes são consistentes e crescentes. “Não dá para fazer um bolo com uma pitada de farinha”, destaca professor Filipe. O mesmo acontece com os investimentos. “Se as contribuições são muito baixas, o efeito dos juros fica limitado, pois eles precisam de capital para funcionar.”

Outro ponto importante é a inflação. Invisível, ela come o valor do seu dinheiro aos poucos e quando você vê não compra mais as mesmas coisas com os mesmos R$100. “O que hoje compra uma coisa, daqui a 10 anos pode não comprar nem metade”, alerta o especialista.
Reforçar a reserva: quando e como
Por isso, a revisão periódica do que é investido mensalmente é essencial. Mudanças na renda, no custo de vida, casamento, filhos ou nos objetivos exigem ajustes. “Mesmo sem grandes mudanças, é bom revisar pelo menos uma vez por ano os aportes, para ver se você está no caminho certo. Comece aumentando um pouquinho a cada ano, tipo 5% ou 10%”, recomenda o professor Filipe.
Além disso, ele indica que a cada aumento de salário, uma fatia maior seja destinada para o investimento antes de se acostumar com o novo padrão de vida.

“Defina uma porcentagem da renda para investir, tipo 10% ou 15%. Assim, quando a renda sobe, o valor investido sobe junto. É possível usar o orçamento mensal como guia também, vendo o que dá para cortar ou ajustar para aumentar os aportes sem se apertar demais.”
Nos planos de previdência, como é o caso da Funsejem, a lógica é a mesma, afirma Filipe. “Esses planos são ótimos para garantir uma aposentadoria mais tranquila, mas não dá para deixar as contribuições no automático. Se a pessoa mantém o valor dos aportes por anos, o investimento pode ficar defasado. O custo de vida sobe, os objetivos mudam, e o plano precisa acompanhar isso. Revisar as contribuições, pelo menos uma vez ao ano, ajuda a manter o plano alinhado com a realidade.”
Alinhando aportes com a vida real
Afinal, de que adianta investir se os aportes não acompanham a realidade do dia a dia? A construção da independência financeira deve considerar o estilo de vida desejado, as metas pessoais e a realidade da renda. “Se a pessoa quer viver bem, viajar, ter conforto, precisa de mais dinheiro guardado. E como a expectativa de vida está aumentando, o dinheiro tem que durar mais tempo. Então tudo isso tem que ser levado em conta na hora de definir quanto investir e por quanto tempo. Porque não dá para investir com o modo sobrevivência ativado. É preciso viver também, como dizia o poeta”, destaca o especialista.

Começar é importante, mas não é suficiente. “Muita gente começa a pensar nisso só perto da aposentadoria. O maior erro é achar que dá para começar com qualquer valor e que o tempo vai resolver tudo. Planejamento e informação fazem toda a diferença. Até é possível começar um investimento com um valor baixo, mas entendendo que os aportes devem ser revisados periodicamente”, finaliza Filipe.

Filipe Eduardo Martins Guedes é professor e coordenador da FAPI – Centro Universitário de Pinhais (PR). Atua também como consultor nas áreas de Processos e Logística. Formado em Administração de Empresas, pós-graduado e mestre em Engenharia de Produção pela UFPR – Universidade Federal do Paraná.






