O que vai pesar mais no seu bolso em 2021?

Os brasileiros vão gastar mais com as contas de água, luz, aluguel e alguns serviços como plano de saúde e transporte em 2021. Alguns reajustes que não foram aplicados no ano passado, devido à pandemia de covid-19, já estão sendo praticados no mercado e o orçamento pode ficar pesado no seu bolso no fim do mês. Veja como se preparar com as dicas de Joseph Vasconcelos, doutor em Economia e professor da FACC/UFRJ (Faculdade de Administração e Contabilidade).

Joseph Vasconcelos, doutor em Economia e professor da FACC/UFRJ
Joseph Vasconcelos, doutor em Economia e professor da FACC/UFRJ

Aluguel

O IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) teve uma aceleração durante todo o período de 2020 e agora já está acima de 20%. Indicador muito importante para o mercado imobiliário, é utilizado como base para o reajuste do preço dos aluguéis. Então é fato que o valor do aluguel vai subir. Mas os consumidores podem tentar negociar com o proprietário, justificando a situação difícil do momento de pandemia, para que o reajuste seja anulado neste ano ou que haja um desconto em cima do valor de acréscimo. Como o IGP-M dá uma velocidade ao preço dos aluguéis, o proprietário não vai querer anular o reajuste, mas sempre é possível conceder um desconto.

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Como o IGP-M é calculado

O índice é calculado com base em mais três indicadores, o Índice de Preços do Atacado-Mercado (IPA-M), o Índice de Preço do Consumidor (IPC-M) e o Índice Nacional do Custo da Construção Civil (INCC-M), com pesos de 60%, 30% e 10%, respectivamente. Esses indicadores medem itens como bens de consumo (um exemplo é a alimentação) e bens de produção (matérias-primas, materiais de construção, etc.). Além disso, embasa o cálculo, os preços de legumes e frutas, bebidas e fumo, remédios, embalagens, aluguel, condomínio, empregada doméstica, transportes, educação, leitura e recreação, vestuário e despesas diversas, como cartório, loteria, correio, mensalidade de internet, entre outros.

Luz

Em janeiro, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) passou a aplicar a bandeira amarela nas contas de luz, o valor é menor do que o estabelecido no mês passado, quando foi ativada a bandeira vermelha.

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Bandeiras tarifárias

O sistema de bandeiras tarifárias foi criado pela Aneel como uma sinalização para que o consumidor entenda as condições e os custos de geração de energia. Quando a produção nas usinas hidrelétricas – uma energia mais barata – está favorável é acionada a bandeira verde, sem acréscimos na tarifa. Em condições ruins, isto é, com pouca chuva, podem ser aplicadas as bandeiras amarela, vermelha 1 ou vermelha 2.

Ou seja, a energia das hidrelétricas depende da pluviosidade – quantidade de chuvas que cai numa determinada região – e essa é uma probabilidade que envolve muita incerteza, pois não temos como prever como será o índice de pluviometria do ano. Então, toda vez que a gente passa por um período menos chuvoso é natural que a energia hidrelétrica não consiga suprir a demanda de energia elétrica dos indivíduos e isso acaba acionando uma modalidade de energia que é mais cara, a energia Termelétrica, e a conta ganha um aumento inesperado para o consumidor. Uma ideia para se esquivar disso é adaptar as residências com placas de energia solar. Elas não conseguem suprir 100% da demanda de energia, mas acabam sendo uma modalidade híbrida de consumo. Sabemos que o custo dessa tecnologia ainda é muito alto para o consumidor. Por isso, outra dica é procurar eletrodomésticos de baixo consumo de energia, bem como lâmpadas que consomem menos kWh.

Água

Tanto a água quanto o fornecimento de energia são preços administrados pelo governo.  Então, devido à pandemia, esse tipo de preço sofreu pouco aumento no último ano. Mas em 2021, observamos uma certa liberação para um aumento desses preços. Agora estamos passando por um período de sazonalidade em que as pessoas acabam consumindo mais água por conta do verão. Logo, aquelas dicas básicas de não deixar as torneiras abertas sem necessidade, tomar banhos rápidos, captar água da chuva para lavar o quintal e o banheiro, por exemplo, são medidas que ajudam bastante a reduzir o consumo. Essas medidas micro têm um impacto macro. Quando o preço do abastecimento de água sobe, ele é puxado pelo aumento do consumo das pessoas. Então é preciso evitar o desperdício porque ele tem grande influência no bolso do consumidor.

Plano de Saúde

Alguns serviços específicos certamente vão ter aumentos acima da inflação oficial – que fechou o ano de 2020 em 4,52% –, como é o caso dos planos de saúde. O reajuste liberado pela Agência Nacional de Saúde (ANS) para planos individuais foi de 8,14% referente aos meses de setembro, outubro e novembro, a ser pago em 12 parcelas. Já os planos coletivos, que têm maior liberdade para definir o aumento pois o valor não é definido pela Anvisa, mas entre pessoas contratantes e a operadora do plano, o reajuste será de 15%.

Combustível

O preço dos combustíveis é muito influenciado pelo valor de insumos cotados no mercado internacional, em especial o barril de petróleo. No ano passado, a economia internacional desacelerou, o que gerou menos demanda por combustível. Com isso, o preço do barril de petróleo ficou em um patamar muito baixo. Mas a partir do momento em que as economias retornarem ao nível de atividade, é natural que haja um aumento nas bombas de gasolina. O governo brasileiro não tem adotado uma política de intervenção nos últimos anos, ele deixa que as refinarias definam o preço do combustível mediante o seu custo com insumos para a produção do produto. Por isso, os consumidores precisam se preparar pois haverá um aumento gradual no valor dos combustíveis e também de outros produtos ou serviços porque o combustível é necessário para praticamente tudo.

Transporte público

No caso do transporte público, como ele também é um preço administrado, as concessionárias que operam os modais urbanos – ônibus, trem, metrô – podem acabar pressionando o governo para que haja uma elevação no valor das tarifas, caso seus custos com manutenção ou mesmo com combustível subam muito.

Gás de cozinha

Segue o mesmo alinhamento porque também é um preço administrado, sofrendo a pressão dos custos da matéria-prima utilizada para a fabricação. O gás de cozinha tem uma particularidade porque praticamente todas as casas utilizam o botijão ou gás encanado. Logo, esse consumo afeta de maneira global a economia ao contrário do combustível ou do plano de saúde, por exemplo. Por isso, o aumento do gás de cozinha terá um maior impacto no bolso dos consumidores.

Inflação e Taxa de Juros

Avaliando uma inflação baixa, o Banco Central (BC) manteve a taxa de juros baixa no início de 2021. Quando você reduz a taxa de juros, é como se estivesse dando uma injeção financeira e de crédito no sistema econômico. Isso faz com que a economia se movimente com maior agilidade. A expectativa do mercado é que a inflação se mantenha baixa no primeiro semestre de 2021. Mas o que que seria uma inflação baixa? Geralmente, o BC estabelece uma meta de inflação, que para este ano foi de 3,75% a.a., e o mercado espera que a inflação feche abaixo deste valor, algo perto de 3,50% ao ano. Se a inflação está abaixo da meta, não há motivos para o Banco Central aumentar a taxa de juros, por enquanto. Mas o cenário até o final do ano pode mudar, afinal ainda estamos em um cenário de incertezas.