O ano promete ser puxado. E se não dá para fugir muito desta expectativa, o melhor é entender nossos desafios, na tentativa de melhor nos adequarmos ao cenário em que vivemos. Atualmente, enfrentamos desemprego elevado, vacinação lenta e déficit fiscal grave, situação na qual o país gasta mais do que arrecada.
Mas nem tudo está perdido. Especialista em Alocação Estratégica de Ativos pela TAG Investimentos, Francisca Albuquerque Brasileiro fala aqui no Futuro On-line da importância da equipe econômica, do espaço que deve voltar a se abrir para discussão das reformas administrativa e fiscal, dos juros baixos e da inflação controlada como fatores positivos. Sobre os investimentos, ela ressalta a necessidade de diversificar e tomar risco, apontando opções para as carteiras de longo prazo, caso das entidades de previdência como a Funsejem.
A gente vive em 2021 um cenário antagônico que deve se estender ao longo do ano, em especial no primeiro semestre. Nós temos nossas consequências locais relacionadas à covid-19, e ao problema fiscal nos gastos públicos, que não é de agora, mas piorou muito com a pandemia. O Brasil está no pior momento da relação dívida PIB, o que limita os gastos com questões essenciais.
Outro ponto é o colapso do desemprego, o mais alto da história, com quase 15% de desempregados, considerando os que estão procurando emprego. O impacto disso é grande, se ainda levarmos em conta o corte do auxílio emergencial e o momento crítico de muitas empresas. Sem renda, fica difícil acelerar a economia. Então o contexto geral é desafiador e antagônico por esses dois grandes polos. O lado fiscal que limita investimentos, deixando o país em situação frágil, inclusive com uma visão internacional muito negativa, e a retomada do crescimento, preso a uma situação de baixa renda, desemprego e empresas debilitadas.
Estamos em uma das fases mais críticas da pandemia, com 16 dos 23 estados com mais de 80% dos leitos de UTI ocupados. O calendário de vacinação é fundamental porque está muito relacionado à diminuição da hospitalização, e da necessidade de quarentenas muito restritivas, de fase vermelha, como a anunciada para o estado de São Paulo agora em março.
Nos países em que o ritmo da vacinação está mais avançado, como Israel e Estados Unidos, o número de casos que precisam de internação vem reduzindo, porque com a vacinação você atinge primeiro a população mais frágil, os idosos. E aqui, de novo, podemos falar de duas forças contrárias caminhando juntas, e que definirão se seremos mais ou menos bem sucedidos em relação às restrições de circulação, que vão ter o maior impacto neste primeiro trimestre. Estas forças são, de um lado, a má gestão pública na compra de vacinas e, de outro lado, a organização extrema do nosso país em vacinar, representada pela estrutura e capacidade do nosso Sistema Único de Saúde (SUS) integrado.
Ao mesmo tempo em que temos desafios locais, temos o mundo em situação diferente. A maioria dos países desenvolvidos começou a afrouxar suas regras de quarentena, e vemos uma clara recuperação econômica, principalmente do lado da indústria, com destaque para a Ásia.
A gente tem tido, com isso, uma recuperação das commodities agrícolas e metálicas, ou seja, uma puxada do preço de alimentos, do minério de ferro, do aço, e toda a cadeia relacionada a essas exportações de matéria-prima básica. Isso é benéfico para o Brasil, país de alta exposição às commodities de forma geral. Então, há um lado da nossa indústria que está em franca recuperação e gerando emprego. A gente acaba surfando um pouco com esse calendário global de recuperação, e com um ambiente internacional de muitos estímulos.
Com a mudança nas presidências da Câmara e do Senado, temos um alinhamento maior entre o Congresso e o Planalto, em especial em relação à equipe econômica. Então, passamos a ter espaço para negociar uma agenda de reformas, a administrativa e quem sabe a fiscal. É sempre mais complicado quando a gente se aproxima de um ano eleitoral, mas 2021 ainda é favorável a discutir isso.
Mas no curto prazo, o que destaco como muito importante é a aprovação da PEC 186, que fala de enxugar gastos, e rediscute toda uma série de distribuição de renda, inclusive o auxílio emergencial. Ela trata, por exemplo, de desvincular o reajuste do funcionalismo público do reajuste do salário-mínimo. Ela também contempla a revisão dos salários acima do teto, e prevê um programa de auxílio aos estados, muito prejudicados com a pandemia. É uma PEC em discussão na Câmara desde março de 2019, e como a desvinculação do salário-mínimo impacta a aposentadoria, não é muito fácil aprová-la. Mas ela disciplina os gastos, nos possibilita fazer investimentos, ter auxílio emergencial, ter uma base para sair da crise sem continuar aumentando o nível de endividamento.
O mercado financeiro lida constantemente com a incerteza na gestão dos investimentos locais, muito elevada por aqui. Mas nós contamos com uma âncora muito importante, que é a política econômica responsável. Ao conversar com pessoas não envolvidas nesse meio, percebo que muitas têm a sensação de que está tudo uma desgraça. Mas não, a gente tem uma equipe econômica responsável, alinhada com Banco Central e Ministério da Fazenda, uma organização econômica saudável. Não é por acaso que temos hoje os juros no mínimo patamar histórico.
Desde 1994, o Brasil vem fazendo esse trabalho, independentemente de posição política. A gente tem inflação? Sim, mas não é fora de controle, não é só no Brasil. A inflação de alimentos e das commodities metálicas que mencionei é no mundo todo. Quanto às instabilidades políticas, o mercado financeiro se assusta, mas não existe nenhuma perspectiva de mudança do direcionamento econômico, mesmo em um cenário mais extremo, de impeachment, por exemplo. E isso traz segurança, diferentemente do que ocorreu na crise de 2013 a 2015.
Os juros curtos estão em 2% ao ano, mas os juros longos continuam elevados. Ou seja, quando a gente olha para a ponta longa da curva, expressão que usamos, onde estão os títulos pré-fixados de 10 anos, e as NTNBs longas (títulos públicos de longo prazo, indexados à inflação), os juros ainda estão em um patamar elevado.
Mas lembrando, o cenário de juros está totalmente relacionado à questão fiscal do Brasil, de muita insegurança. Um país com uma dívida muito alta, requer juros muito altos. Então, se formos para uma situação mais crítica em relação ao fiscal, poderemos ter um ambiente em que os juros subam, impactando esses investimentos. O mercado financeiro fica então mais atento, qualquer gasto sem aprovação de PEC sinaliza uma disparada da curva de juros.
Agora, quando a gente fala de renda variável (ações em bolsa de valores), a gente está olhando a economia real, as empresas, como elas estão sobrevivendo. E tem empresa com preço atrativo, o que é favorável para quem tem estômago para tomar um pouquinho de risco.
Não dá mais para ter uma carteira concentrada em poucos ativos, a gente precisa sofisticar os investimentos. Nos portfólios dos nossos clientes, temos reduzido os títulos longos, que sempre foram a base dos fundos de pensão. Eles continuam tendo peso, mas não são mais suficientes para pagar a conta sozinhos. Como o ambiente fiscal é muito relacionado a juros, precisamos de outros elementos.
Os investimentos no exterior são um exemplo. O Brasil é um país extremamente endividado, com um dos piores calendários de vacinação no mundo, e com muitas empresas em situação frágil, então não faz sentido ter todo meu dinheiro no ambiente local neste momento. A gente tem colocado quase o máximo possível, perto do teto da legislação, no exterior. Há também os fundos de participação, os fundos imobiliários, o crédito mais estruturado, caixinha que chamamos de investimentos “ilíquidos”, além dos multimercados, e da renda variável mais sofisticada.
Eu costumo fazer a seguinte conta: 1% ao ano de juros representa, no mínimo, 40% a mais na aposentadoria. É muita coisa. Os juros estão lá embaixo, tornando difícil acumular poupanças, então quem não quer correr risco e tentar elevar a rentabilidade precisa entender o impacto disso na aposentadoria. Essa conta precisa ser feita para ver se não vale a pena respirar fundo, aguentar um pouquinho a volatilidade de curto prazo, para atingir objetivos lá na frente, para a renda atingir um mínimo de retorno necessário para rentabilizar os recursos.
Só é preciso, claro, tomar risco de modo profissional. Hoje, com a internet, muitas pessoas têm a sensação de saber qual ação vai subir mais, elas investem na aposta de determinado youtuber ou tuiteiro. A gente que trabalha com isso vê muita gente perdendo dinheiro, porque concentraram seus investimentos. Não existe fórmula mágica. O mercado existe há 100 anos, e há 100 anos existem pessoas prometendo retornos maravilhosos. É preciso destinar um pouco de recursos em cada tipo de aplicação, em cada gestor, de forma consciente da complexidade do assunto. Não é não fazer, mas saber que é necessário estudar se você quer fazer por conta própria ou buscar um apoio, um adviser, um consultor, um agente autônomo para tomar decisões melhores.
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Sempre alerta!
Quando o assunto é investimento, sua análise precisa se basear no momento pelo qual passa o mercado financeiro, nas características da aplicação, e na adequação ao seu perfil de investidor. Os desempenhos, sejam de sua carteira pessoal ou da sua modalidade de investimento no plano de aposentadoria da Funsejem, devem ser considerados apenas como referência de gestão, e não como fator determinante para sua escolha, pois resultados passados não garantem rentabilidade futura.