Na terceira reunião de 2023, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou a manutenção na taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano. A decisão veio em linha com a expectativa do coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Ahmed Sameer El Khatib, que vai ajudar você a entender como e o que influencia a definição dos juros básicos da economia.
“Podemos esperar uma redução moderada da Selic para os próximos meses, mas a perspectiva é de que encerremos o ano de 2023 com um patamar na casa de 12,5% a 13% ao ano, o que ainda é elevado. Com tantos fatores no horizonte, as perspectivas para o futuro da taxa básica de juros variam muito. Tudo depende de como será feita a lição de casa econômica, política e, principalmente, fiscal”.
Fatores que influenciam no aumento ou na redução da Selic
A taxa Selic é influenciada por diversos fatores, sendo o principal deles a inflação. Quando a inflação está alta, o BC pode aumentar a taxa básica de juros para desacelerar a economia e controlar a inflação. Além disso, a taxa Selic também pode ser definida com base nos títulos públicos federais negociados, pelo nível de emprego e pela renda da população. Outro fator que pode influenciar a taxa de juros é o câmbio, já que uma Selic mais alta pode atrair mais recursos estrangeiros para o país.
“Em resumo, a taxa básica de juros é influenciada por diversos fatores econômicos, sendo a inflação o principal deles, e o Banco Central avalia esses motivos para definir a meta da Selic em cada reunião do Copom”, explica Ahmed.
Tradicionalmente, o Comitê se reúne entre terça e quarta-feira de uma semana, e o documento final, a Ata do Copom, isto é, o detalhamento das razões para a decisão de manutenção, aumento ou diminuição da Selic, sai na terça-feira da semana seguinte. “Além das informações sobre as decisões tomadas, incluindo a definição da meta da taxa básica de juros, a ata do Copom traz as projeções do BC, que podem ser úteis para investidores e analistas do mercado financeiro”, considera Ahmed.
“A ata do Copom também pode apresentar a visão do Banco Central em relação à economia e às perspectivas futuras, o que contribui para entender as tendências do mercado financeiro. Ou seja, a ata é uma fonte importante de informações para investidores, analistas e demais interessados em acompanhar a política monetária do Brasil”.
Como a taxa básica de juros interfere nos investimentos
Como a Selic é um importante instrumento do BC para atingir os objetivos macroeconômicos, ela impacta diretamente diversos setores da economia, entre eles, outras taxas de juros do país, como as cobradas em empréstimos, financiamentos, bem como o retorno de aplicações financeiras. “Se a taxa Selic está alta, os investimentos em renda fixa, como títulos públicos e CDBs, tendem a ser mais rentáveis, já que os juros pagos pelos empréstimos e financiamentos também são mais altos. Por outro lado, em um cenário de Selic baixa, os investidores tendem a buscar opções mais arriscadas, como ações, para obter maiores retornos. Além disso, a taxa Selic também pode influenciar indiretamente a valorização ou não das ações de empresas negociadas nas bolsas de valores”, explica o coordenador do Instituto de Finanças da Fecap.
Outro ponto impactado pelo aumento da Selic é o poder de consumo da população, que acaba ficando reduzido, pois os juros das linhas de crédito, empréstimos e financiamentos também ficam mais altos, comprometendo o acesso das pessoas ao dinheiro e, consequentemente, a economia.
A taxa Selic também pode afetar a previdência privada, como é o caso dos planos da Funsejem. “Em resumo, a taxa básica de juros é um importante indicador para investidores e para quem busca planos de previdência privada, já que pode afetar diretamente o retorno dos investimentos”, pontua Ahmed.
Como investir com base na Selic
Para saber como investir, é necessário entender que o impacto da taxa básica de juros é diferente dependendo do tipo de investimento. Com a Selic alta, é mais favorável investir em renda fixa, enquanto com a Selic baixa, é o oposto, sendo a renda variável a oferecer maior potencial de retorno.
“É uma boa opção investir em renda fixa quando a Selic está alta, pois os juros pagos pelos empréstimos e financiamentos também são mais altos, tornando os investimentos mais rentáveis. Além disso, investir em títulos públicos e CDBs pode ser interessante, já que esses investimentos costumam ser indexados à Selic. Já com a taxa de juros baixa, ações, fundos imobiliários e títulos privados costumam apresentar rentabilidades maiores”, orienta Ahmed.
“É importante lembrar que cada investimento tem suas particularidades e riscos, por isso, sempre avalie as opções com cuidado antes de investir.”
Vale ressaltar que a diversificação da carteira de investimentos é fundamental para poder aproveitar o aumento e a diminuição da Selic no decorrer do tempo. “É por isso que na Funsejem temos um portfólio bastante diversificado”, destaca José Serafim de Freitas, diretor-executivo da Funsejem.
“O portfólio de menor risco corresponde a quase 100% dos investimentos do perfil conservador, sendo composto majoritariamente de papéis pós-fixados, que remuneram a taxa básica de juros da economia. Os outros perfis – moderado, agressivo e superagressivo – também têm em suas carteiras os títulos pós-fixados do conservador, mas como o objetivo destes outros perfis é assumir um pouco mais de risco em suas posições, na tentativa de obter retornos maiores no longo prazo, eles contemplam aplicações que oscilam facilmente diante de mudanças na Selic, na inflação e nas expectativas de juros do mercado.”
Portanto, é uma estratégia diversificada que permite a recuperação de possíveis perdas pontuais, seja impactada pela Selic ou por outros indicadores econômicos, ao longo da formação de uma reserva financeira para planos futuros. “A migração contínua de perfis nunca é favorável para o retorno do seu investimento. Além disso, nunca tome como base os resultados de curto prazo para trocar de perfil de investimentos, é sempre importante olhar o longo prazo”, finaliza o diretor-executivo da Funsejem.
Ahmed Sameer El Khatib é doutor em Administração de Empresas, mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC/SP e graduado em Ciências Contábeis pela USP. Concluiu seu estágio pós-doutoral em Contabilidade na USP. É professor e coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) e professor adjunto de finanças da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).