As diversas crises financeiras enfrentadas na atualidade, seja em decorrência da pandemia da covid-19, ou pela guerra na Ucrânia, ressaltaram na necessidade de preparar os futuros adultos a superar os desafios econômicos. Uma vez que os rumos da economia influenciam diretamente no orçamento familiar, na realização de planos, sonhos e da construção de um futuro. Mas como falar sobre dinheiro e fazer com que o tema seja um assunto natural e atrativo desde a infância? Por meio da educação financeira.
Como deixar a educação financeira atrativa
Rita afirma que é preciso ser criativo e deixar o estereótipo de lado de que finanças é um assunto sério que é preciso se sentar para conversar. “Na verdade, criança aprende brincando, interagindo e com exemplos práticos. Portanto, não é pelo fato de o assunto ser importante que ele não possa ser divertido. É importante trazer o tema de forma bem atrativa para criar o interesse. É preciso que seja algo natural e que não quebre a rotina da criança, pois isso vai tornar a educação financeira interessante e agradável”, explica.
Como saber o que conversar e apresentar aos filhos
Primeiro, é preciso respeitar a fase de desenvolvimento de cada criança. A educadora financeira ressalta que não é possível falar com uma criança de 3 anos sobre juros compostos, mas os pais podem levá-la ao supermercado e explicar que o dinheiro (cédula) ou o cartão de crédito são as ferramentas que compram o lanchinho de levar para escola, por exemplo. Rita ainda recomenda:
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Mostre o dinheiro em papel, a moeda, enquanto existe essa possibilidade. Deixe a criança pegar, pois não sabemos se no futuro ainda teremos esse recurso.
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A partir do momento que a criança consegue compreender as regras de um jogo de tabuleiro, explique o ganhar e o perder. Com isso, ela começa a criar habilidades emocionais importantes.
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Separe o dinheiro em potes, deixando um para as necessidades do dia a dia e outro para um desejo, que poderá ser alcançado de dois a três meses, ou seja, em um curto prazo. Essa estratégia ajuda a ensinar a lidar com prazos e a organizar o orçamento para que o dinheiro seja designado para aquilo que a criança deseja realizar, mostrando como é elaborar um orçamento.
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É possível mostrar como se ganhar dinheiro com o empreendedorismo. Incentive disponibilizar um serviço que vai ajudar o próximo. Não é um trabalho, mas sim uma habilidade que será colocada em prática e será remunerada.
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Ensine a investir e a ganhar dinheiro por meio dos juros compostos.
“A educação financeira é para vida e deve ser apresentada de forma gradual”, pontua a educadora financeira. “Por isso, o acompanhamento dos pais é muito importante, pois assim poderão analisar a resposta da criança a cada atividade. Se ela está com dificuldade, se está sabendo assimilar e colocar em prática. Se sim, o conteúdo está de acordo com a fase de desenvolvimento dela. Se não, talvez tenha que segurar um pouco e em algum outro momento tentar novamente. É muito importante respeitar a resposta da criança”.
Ensinando a economizar para realizar
A educação financeira é uma habilidade emocional no qual se aprende a fazer escolhas, a priorizar e a esperar para conquistar. “A maioria dos adultos são imediatistas, principalmente, porque os seres humanos têm a necessidade de pertencer, além de serem bombardeados por uma infinidade de coisas, como o último modelo de celular, de um carro, de um videogame. Por isso, é importante entender desde pequeno que para conseguir ter o modelo mais atual de celular, tem um valor agregado nisso. Não é simplesmente comprar e depois vê o que faz, que é o que acontece com muitos adultos, que se endividam, são desorganizados com as finanças e nem sabem para onde o seu dinheiro está indo”, considera a educadora financeira.
Mas como lembra Rita, falar sobre dinheiro ainda é um tabu para muitas famílias e motivo de brigas. “Infelizmente, ainda é um tabu falar sobre finanças dentro de casa, mas a educação financeira começa com os pais conversando abertamente com os filhos sobre o tema, claro que dentro daquilo que eles entendam. Com a educação financeira, a criança adquire habilidades emocionais que vão torná-la um adulto mais consciente de suas atitudes.”
Então para que a criança possa se tornar um adulto que poupa para realizar, é preciso falar sobre o assunto, começando desde pequeno e com o estabelecimento de metas. Ou seja, a criança precisa entender claramente o porquê ela vai guardar o dinheiro, é para comprar um carrinho, uma camiseta de futebol etc. Além disso, é importante explicar e demonstrar quanto tempo vai demorar para atingir o objetivo, respeitando cada fase. “Quanto mais nova a criança, mais dificuldade ela terá em compreender a questão da passagem do tempo. Uma forma de facilitar o entendimento é ter controles. Aqui em casa, temos o caminho de tabuleiro onde meu filho marca um x a cada semanada que ele recebe. Com isso, ele sabe quantos x ainda faltam para ele conseguir aquilo que ele definiu como meta. Esse é um método visual, como se fosse um jogo e isso faz a criança ter o interesse. É muito importante que a criança enxergue a evolução, o quanto ela já caminhou e o quanto ainda falta”, explica a educadora financeira.
Conforme a criança vai crescendo, por volta dos 11 anos, é possível inseri-la no planejamento da família, na organização da próxima viagem de férias, por exemplo, mostrando o que ela pode fazer para ajudar a realizar esse projeto. “Não é simplesmente não podemos, não temos dinheiro, sempre que quiser justificar uma mudança de hábito que foi estipulada para economizar e proporcionar a viagem de férias da família. Explique e lembre desse projeto e mostre como ele vai colaborar para conquistá-lo. Desta forma, fica mais fácil da criança entender o que está sendo feito e o porquê. Conversando e inserindo a criança nos planos financeiros, fica todo mundo engajando pela causa e isso estimula a família a economizar de forma conjunta”, destaca Rita.
Quando a criança aprende desde pequena o que é o poupar, o esperar para poder realizar ela vai entender que quanto mais sonhos forem aparecendo ao longo da vida, maiores serão os desafios, assim como os seus prazos e valores para conquistá-los. Mas com planejamento, fazendo as escolhas certas, estabelecendo prioridades e metas, é possível chegar lá.
“Muitos adultos não entendem as consequências de determinadas atitudes. Por exemplo, somente 1% dos brasileiros é independente financeiramente na terceira idade, ou seja, conseguiram um patrimônio para se autossustentar e não dependem apenas do INSS. A educação financeira traz conforto, tranquilidade, dignidade e isso se trabalha desde a infância”, finaliza a educadora financeira.