Enfim, abrimos o último bimestre de um ano para lá de extenuante nos investimentos. De um lado, a Bolsa em ambiente de enorme volatilidade faz, desde março, redobrar o esforço dos gestores profissionais em suas estratégias no mercado acionário. De outro, os juros baixos põem diariamente em xeque o conforto que até então o investidor comum tinha com as aplicações atreladas à taxa básica Selic, do ponto de vista de retorno seguro.
E afinal de contas, o que deste cenário permanece em 2021? O que foi possível aprender e o que ainda é preciso reavaliar?
Quem nos ajuda com estas questões é Guilherme Benites. Sócio da consultoria financeira Aditus, que presta serviços à Funsejem, ele analisa 2020 como um ano que nos chacoalhou fortemente. Não houve, porém, a gravidade crítica que nos obrigaria a desviar totalmente as rotas rumo à formação de reserva previdenciária.
O incômodo persistente dos juros baixos
A baixa rentabilidade na renda fixa é hoje a maior preocupação de todo investidor. E mais preocupante que o CDI (referência de retorno na RF) tão baixo como está é ele perder para a inflação, porque aí significa que a sua reserva vai se desvalorizar com o tempo.
Eu imagino que 100% das entidades de previdência privada estão preocupadas com essa questão, mas esse movimento não está restrito ao mercado profissional.
No pós-pandemia, houve uma entrada maciça de pessoas físicas em bolsa de valores.
Ou seja, nota-se que há um incômodo de deixar o dinheiro no banco e vê-lo rendendo tão pouco.
De qualquer forma, esse cenário não decreta a morte da renda fixa. Parte do trabalho que estamos fazendo este ano com a Funsejem é justamente revisar os mandatos de renda fixa, para ampliar os instrumentos que os gestores têm a utilizar, pois existem alternativas, como os papéis de longo prazo e o crédito privado.
Sobre ele, aliás, interessante chamar a atenção para o fato de que ele tende a pagar um prêmio interessante daqui para frente, se comportando de forma semelhante ao crédito privado americano. Por se tratar de um papel emitido por empresa, tem um risco um pouco maior que os papéis atrelados ao CDI. Por isso, para se tornar mais atrativo aos investidores, passou por uma reprecificação no início do ano, com o baque da pandemia, elevando o prêmio que paga além do CDI, e isso deve se manter.
Mercado de ações: oportunidades em meio ao estresse
Uma coisa que, de fato, não há como negar é que por mais que a gente busque alternativas para a renda fixa, vamos esbarrar em um limite. A taxa de juros baixa reduziu também a taxa de juros longos e o prêmio. Então esse ambiente vai influenciar a formação de poupança.
Aí entra a renda variável. Em um ano de alta tensão e volatilidade como 2020, por incrível que pareça, a renda variável oferece oportunidades. É só prestarmos atenção no desempenho das diversas ações em bolsa de valores. Tem as que caíram muito, mas tem as que subiram muito. É claro que ao pensar em bolsa, a gente olha para o índice Ibovespa, que hoje está longe de refletir a economia brasileira de forma ideal. Mas se você pegar empresas de comércio on-line, elas tiveram um desempenho espetacular.
A Bolsa, na verdade, deve se consolidar cada vez mais como um ativo de longo prazo, porque a maturação desse investimento é assim. Você pode dar muita sorte de em uma semana ver sua ação subir, como pode vê-la cair 20% no mesmo período. O primordial é ter tempo para entrar e permanecer. O mercado de ações é uma estratégia que se paga, no entanto, mais a médio e longo prazo.
O mito do timing na Bolsa
Eu honestamente não acredito em ganho sustável na renda variável com operações de curtíssimo prazo, não a enxergo como um lugar para se ganhar dinheiro todo dia. Se você colocar na ponta do lápis tudo o que ganha e perde nas transações de curtíssimo prazo, a chance de empate é muito alta, sem falar no trabalho insano de acompanhamento. Principalmente em momentos como a última semana de outubro. Tudo parecia bem, e de repente a Bolsa caiu 8%. Nem gestores profissionais conseguem ganhar todo dia em momentos como esse.
É preciso tirar um pouco esse mito. A variação negativa é inerente à Bolsa. E às vezes essa variação nem tem relação com a força e o desempenho da empresa da qual você tem ação. A empresa pode ser boa, mas as percepções de mercado mudam a todo tempo. Quando a gente opera Bolsa, estamos lidando muito mais com o humor das pessoas, do que com o ativo da forma como o analisamos.
A única maneira de você tirar os rumores de curto prazo da jogada é você realmente ignorar essa volatilidade do mercado de ações e mirar lá na frente. Quem vai se aposentar daqui a 20, 30 anos tem condições de deixar um volume razoável do seu patrimônio na renda variável, de forma quase estrutural. A carteira vai chacoalhar, mas no longo prazo o retorno vem. Claro que é preciso saber qual tipo de ação você vai colocar no seu portfólio. Mas feito isso, não se abale com o humor do mercado, e invista naquelas empresas que você avaliou e que acredita que vão crescer 10%, 20%, 30% nos próximos 5 anos.
Alternativa e versatilidade do mercado imobiliário
É muito natural o investidor, ao não querer mais renda fixa, pensar direto em Bolsa, mas tem outras oportunidades. O Brasil não precisa nem vai reinventar a roda. O que quero dizer com isso é que traçando um paralelo com outros países desenvolvidos que vivem em ambiente de juros baixos, o caminho que estamos trilhando será o mesmo, se permanecermos neste cenário. O ambiente de juros baixos tende a favorecer a economia real, aquilo que enxergamos e é palpável.
Onde encontraremos oportunidades então? No mercado imobiliário.
Claro que falar hoje de escritórios corporativos não é grande pedida, mas falar de centro de distribuição de produtos, por exemplo, sim, isso ganhou espaço. Falar de shopping center, de novo, talvez não faça sentido, mas falar em casas maiores ao redor de regiões metropolitanas, pode ser interessante.
Tal como a bolsa de valores, o ativo imobiliário não é bom por si só, ou seja, tem coisa boa e ruim. Mas ele cresce no cenário de juros baixos. E pensando na Funsejem, a gente acabaria se beneficiando em todas as classes de ativos com o aquecimento do setor imobiliário. Empresas que decidam construir o centro de distribuição que mencionei, tanto podem vendê-lo dentro de um fundo imobiliário, que é um ativo elegível à carteira da Funsejem, como podem, antes de construírem o centro de distribuição, captar dinheiro no mercado, e aí já estamos falando de um outro ativo, o de crédito, também elegível a nós. Se essa empresa cresce muito e faz IPO (inicia oferta de ações), vira Bolsa, mais um ativo.
O ciclo econômico é muito favorável à construção de novos negócios e o mercado financeiro sempre bebeu dessa fonte. A Bolsa é 100% empresa atuando no mercado. Então é um círculo virtuoso, o mercado se desenvolve à medida que a economia real se desenvolve e isso se realimenta. Claro que a gente ainda está em um ambiente de muita incerteza, mas a se manter esse juro baixo, a gente pode passar por uma transformação muito grande do ponto de vista de sociedade como um todo. Economia se desenvolvendo gera negócio, que gera emprego, que gera consumo, que gera mais crescimento e aí por diante.
Perfil de investidor: uma questão de olhar
Normalmente, o participante olha para o perfil e tem vontade de acertar o momento de mudar. Os que vão para o agressivo acreditam que o mercado vai seguir melhor. Os que saem do alto risco esperam o contrário. Esse movimento tem problemas intrínsecos. É muito difícil cravar o momento ideal para a mudança. No caso da Funsejem, é ainda pior, porque você tem que acertar o que vai acontecer daqui a 30 dias, já que o investimento não é diário como a Bolsa, é mensal. Acertar, então, é mais sorte que análise.
Então eu tenderia a olhar o perfil mais para dentro que para fora, ou seja, no que a previdência significa para mim, e no meu tempo até a data em que planejo usar meus recursos. É mais confortável pensar que eu posso escolher perfis mais agressivos enquanto eu tenho muito tempo pela frente. Se eu não vou me aposentar nos próximos 25 anos, por exemplo, e a Bolsa despencar em 2021, eu ainda tenho mais 24 anos para me recuperar. Agora, se eu for me aposentar daqui a três anos, uma queda forte no mercado acionário abalaria bem mais o meu benefício. O impacto negativo sobre um patrimônio de R$ 10 mil, na fase inicial de carreira e poupança, é irrisório se comparado ao impacto negativo sobre R$ 100 mil.
Quando e por que sair do alto risco
Existem, claro, algumas situações em que você deve sair e realizar a perda para que ela não seja muito maior. Vamos pensar, por exemplo, no que aconteceu em 2014 e 2015 aqui no Brasil. Naquele momento, a preocupação do mercado era de que o país fosse quebrar, e aí os juros subiram de forma drástica. Em uma situação como essa, é mais interessante aproveitar os juros altos, sem correr grandes riscos, do que recorrer a uma bolsa de valores sem grandes perspectivas, em virtude do receio de quebra do país na época. Mas aí veio o impeachment, mudando novamente todas as expectativas.
Então situações drásticas, de quebra, de mudança de regime governamental, devem te fazer pensar. A pandemia mudou muita coisa na nossa vida? Mudou. Mas em princípio, quando a gente olha para os parâmetros do mercado financeiro, o entendimento é de que estamos passando por uma forte turbulência. Ela nos chacoalhou, mas não nos obrigou a desviar a rota, e vamos seguir em frente.
Que venha 2021
Eu acho que o final de 2020 tende a ser conturbado. Se as eleições americanas se estenderem muito em um imbróglio judicial, com a contestação de Donald Trump sobre as votações, o mercado não vai andar bem. Aqui no Brasil, temos eleições agora em novembro. Ainda que não seja nacional, ela faz com que Câmara e Senado parem, então não temos expectativas de aprovação de reformas para esse ano. Resumindo, o final de ano tende a ser meio “de lado”, sem rompantes para cima ou para baixo.
Mas para 2021, a expectativa geral é positiva. Também depende de alguns fatores. A forma como o governo brasileiro vai cuidar da parte econômica, lidar com dívida, teto de gastos é preponderante. Tirando isso, a dinâmica de mercado tende a ser positiva. As empresas estão captando recursos a juros mais baixos, estão capitalizadas, e com uma ociosidade de produção enorme, há espaço para aumento de produção, sem que isso gere inflação.
As pessoas em algum momento vão voltar a uma vida mais semelhante ao pré-pandemia. Saímos de uma situação de todos no trabalho para todos em casa e agora precisamos achar o meio termo. É muito improvável imaginar 2021 com todos em casa, até porque tem vacina para aparecer por aí. A gente enxerga 2021 como um ano de franca recuperação. Investimento na economia real, com muito dinheiro no mercado a ser investido.
Precisamos ficar sempre de olho nos riscos, mas o cenário base para a recuperação é o atual. Ou seja, se os juros subirem muito, alguma coisa deu errado. Não haverá meio termo, ou será cenário bom e ótimo, ou será ruim, temos pouca margem de manobra. Mas dentro do cenário base, estamos muito mais para o cenário otimista, que pessimista.
Sobre a Aditus
É a consultoria financeira contratada pela Funsejem para os serviços de análise técnica de investimentos e de risco. Para saber mais sobre a Aditus, clique aqui. E para saber mais sobre nossos investimentos e gestores financeiros, clique aqui.
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Sempre alerta!
Quando o assunto é investimento, sua análise precisa se basear no momento pelo qual passa o mercado financeiro, nas características da aplicação, e na adequação ao seu perfil de investidor. Os desempenhos, sejam de sua carteira pessoal ou da sua modalidade de investimento no plano de aposentadoria da Funsejem, devem ser considerados apenas como referência de gestão, e não como fator determinante para sua escolha, pois resultados passados não garantem rentabilidade futura.