Parece nome de bicho de documentário, mas é uma das estratégias mais interessantes para a previdência privada crescer com equilíbrio. Entenda por que esse tal de fundo multiestratégia pode estar no seu futuro financeiro.
Biografia não autorizada do multiestratégia
Não morde, mas muda de forma. Não voa, mas acompanha os mercados mundo afora. O fundo multiestratégia talvez ainda seja um bicho estranho para muitos participantes, mas merece atenção: ele pode ser o camaleão que faltava na carteira previdenciária — e, dependendo do perfil de risco, a convivência pode ser bem harmoniosa.
Mas, afinal, o que é esse tal de multiestratégia?
“É uma estratégia que pode investir em vários mercados, como renda fixa, crédito, ações, moedas e exterior. O objetivo é buscar resultados combinando fontes diferentes de rentabilidade, administrando bem o risco”, explica Fernanda Lattari, gestora dedicada a mandatos exclusivos de fundos de pensão e seguradoras da Itaú Asset Management, um dos gestores da Funsejem.
Em outras palavras, esse tipo de fundo não aposta todas as fichas num só ativo. Ele mistura classes, modelos e direções de investimento para tentar extrair oportunidades em qualquer cenário, suavizando os impactos dos solavancos econômicos.
Habitat ideal
Nada de curto prazo. Esse fundo vive melhor em ambientes de longo prazo, onde tem espaço para crescer com tranquilidade. Se você está prestes a se aposentar ou precisa daquele dinheiro a qualquer momento, talvez seja melhor adotar outro ‘bicho’. “Para investidores extremamente cautelosos, perto do usufruto ou que não dormem bem diante de oscilações no extrato, nem sempre é a melhor escolha. Já para quem tem uma jornada longa pela frente e pode esperar a maturação do investimento, os fundos multiestratégias fazem bastante sentido”, orienta Fernanda.


Quando o bicho não é de estimação
Importante deixar claro: fundos multiestratégia não são indicados para objetivos imediatos, como emergências ou gastos previstos em um futuro muito próximo. Sua natureza exige paciência e horizonte de médio a longo prazo. “Eles não combinam com situações que exigem liquidez imediata. Não são ideais para quem está em usufruto de recursos previdenciários ou precisa usar o dinheiro em pouco tempo”, alerta a gestora.
Nível de perigo: médio. Mas depende do habitat
Nem todo fundo de renda fixa é igual. E nem toda renda variável tem o mesmo apetite por risco. Por isso, entender onde o fundo multiestratégia se posiciona no espectro de risco e retorno exige olhar além das etiquetas tradicionais. “Em linhas gerais, ele está entre um fundo de renda fixa mais simples e uma estratégia puramente de ações. Mas é importante lembrar que isso varia muito conforme o tipo de ativo que se compara. Um multiestratégia pode ter mais risco que uma NTN-B longa, por exemplo, mas menos do que um fundo agressivo de ações. Vai depender da combinação de estratégias e da tolerância ao risco do fundo”, esclarece Fernanda. A lição? Ao comparar fundos, o mais sensato é observar o mandato, o benchmark e o histórico de comportamento. A caixinha renda fixa ou renda variável pode dizer pouco sobre o comportamento real do bicho.


Inteligência instintiva: como pensa um gestor de multiestratégia
A diferença entre investir por conta própria e confiar em um fundo bem gerido é gigante — especialmente no mundo multiestratégico. “O gestor recebe uma política de investimento com regras claras sobre limites, benchmark e composição da carteira. A partir disso, monta a alocação e revisa conforme o cenário muda”, explica a gestora. Já o investidor pessoa física precisa entender o tipo de ativo que o fundo opera, seu histórico de rentabilidade e nível de risco. “Algumas plataformas até oferecem ajuda para montar portfólios, mas é fundamental entender o que está contratando”, complementa.
Desafios da selva multiestratégica
Para tomar boas decisões, é necessário muito mais do que acompanhar o noticiário financeiro. Como um bom animal de hábitos analíticos, o fundo multiestratégia se alimenta de dados. Por trás da estratégia, há muita análise de cenário, conversas entre equipes e decisões milimetricamente calculadas. “É um grande desafio montar uma equipe capaz de consumir bem os dados, manter a disciplina de seguir o mandato e estar sempre pronta para revisar as ideias conforme chegam novas informações de mercado”, diz Fernanda. “Com a ajuda de boas ferramentas tecnológicas, conseguimos ter acesso a boas bases de dados e atualizar análises com mais agilidade. Isso é fundamental para testar as melhores combinações entre estratégias domésticas e internacionais, buscando mais eficiência com o controle de risco.”

Espécie Barcelona: nativa da Funsejem
Entre as opções na Funsejem, um dos representantes desse grupo é o Barcelona, fundo multiestratégia gerido pelo Itaú Asset Management. Ele compõe a carteira dos perfis moderado, agressivo e superagressivo dos planos Votorantim Prev e VCNE (fechado para adesões), e atualmente concentra cerca de R$ 122 milhões de recursos da entidade. “A principal diversificação que fazemos no Barcelona é de renda fixa. Mas há alocações incrementais em moedas e renda variável, conforme o cenário. Neste momento, temos posições otimistas quanto à queda dos juros e uma estratégia que aposta na desvalorização do dólar frente a outras moedas”, detalha Fernanda.
Vale lembrar: o fundo não realiza investimentos no exterior diretamente, nem opera com alavancagem. Ele também não está disponível para o perfil conservador, que permanece alocado em estratégias mais tradicionais de renda fixa.
Além dessa espécie, a Funsejem possui o investimento de R$ 131 milhões no Bradesco Multiestratégia, que também é direcionado aos perfis moderado, agressivo e superagressivo.

Quando o bicho é bem cuidado, ele dá retorno
No mundo previdenciário, consistência no longo prazo é mais importante do que ganhos relâmpagos. E é nesse ponto que a multiestratégia ganha relevância: quando bem gerida e usada com consciência, permite diversificação real com controle de risco. “A jornada do investimento tende a ser menos instável, menos dependente de um único mercado. Isso pode melhorar os resultados lá na frente, especialmente para quem tem um horizonte maior”, conclui Fernanda.
O importante, no fim das contas, é conhecer bem sua própria natureza de investidor antes de adotar qualquer espécie na carteira. E, claro, contar com orientações confiáveis ao longo dessa jornada.


Fernanda Lattari é economista pela USP, profissional CFP® e especialista em portfólios na Itaú Asset Management, onde atua desde 1999. Com pós-graduação em Economia (FIPE-USP) e Ciências do Consumo (ESPM), também possui extensões em Psicologia Econômica (FIPE-CAFI) e Planejamento Financeiro (Insper). Desde 2025, é gestora dedicada a mandatos exclusivos de Fundos de Pensão e Seguradoras. Foi vencedora do Prêmio de Excelência em Planejamento Financeiro (IBCPF) e é referência em comportamento financeiro feminino.
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Sempre alerta!
Quando o assunto é investimento, sua análise precisa se basear no momento pelo qual passa o mercado financeiro, nas características da aplicação, e na adequação ao seu perfil de investidor. Os desempenhos, sejam de sua carteira pessoal ou da sua modalidade de investimento no plano de aposentadoria da Funsejem, devem ser considerados apenas como referência de gestão, e não como fator determinante para sua escolha, pois resultados passados não garantem rentabilidade futura.