O que aprendemos sobre o ano de 2025

Ao longo de 2025, a série O que aprendemos sobre… do Futuro On‑line teve um objetivo claro: traduzir temas do dia a dia financeiro em linguagem simples, prática e confiável, sempre com especialistas apontando caminhos — da organização do orçamento à tomada de decisão em crédito e investimentos, passando por alertas sobre armadilhas como as bets. A ideia foi empoderar escolhas, mostrando que planejamento, disciplina e informação de qualidade são as bases de uma vida financeira mais saudável.

Relembre as principais dicas dos especialistas da série

  1. Com juros elevados, a recomendação é revisar despesas essenciais, evitar dívidas caras e planejar compras com antecedência. Leia mais aqui
  2. No sobe e desce dos alimentos, priorizar itens não sazonais, comparar preços e evitar desperdício para manter o orçamento equilibrado. Leia mais aqui
  3. Crédito consciente: evite rotativo do cartão, renegocie e não assuma parcelamentos longos. Leia mais aqui
  4. Bets não são investimento: apostas esportivas seduzem com marketing, mas não constroem patrimônio e podem agravar dívidas. Leia mais aqui
  5. Investimentos: é preciso consistência e revisão periódica dos aportes, além de diversificar com propósito e desconfiar de promessas de retorno rápido. Leia mais aqui

Com esse pano de fundo, fechamos o ano com uma retrospectiva financeira guiada por quem acompanhou os indicadores e o comportamento das famílias: Filipe Martins, mestre em Controladoria e Contabilidade, docente em Ciências Contábeis no Centro Universitário Cesuca.

Um ano de desafios e oportunidades

Segundo Filipe, 2025 foi marcado por um esforço contínuo de estabilização econômica, ainda sob reflexos das crises recentes e das enchentes de 2024 no Sul do país. “O endividamento das famílias seguiu limitando o poder de compra”, observa. Ao mesmo tempo, surgiram oportunidades: ganhos de eficiência com tecnologia e inteligência artificial, maior interesse por investimentos e avanço de setores ligados à sustentabilidade. “O agronegócio manteve desempenho expressivo, sustentando a balança comercial e a geração de renda”, destaca.

Indicadores que moldaram decisões

Dois sinais chamaram atenção: a Selic, a taxa básica de juros, elevada e o endividamento das famílias. “Esses fatores restringiram o crédito e o consumo, funcionaram como contenção da inflação e pressionaram orçamentos”, explica Filipe.

O docente lembra que em diversas ocasiões, o governo recorreu a medidas como a antecipação de crédito, como o décimo terceiro salário de aposentados, com o intuito de injetar recursos na economia. Mas essas ações não são sinônimo de melhora na vida financeira do indivíduo uma vez que o descompasso com a renda tende a ser um problema estrutural do brasileiro.

“A liberação de novas linhas de crédito para consumidores que já se encontravam em níveis elevados de endividamento, pode aliviar necessidades imediatas, mas tem potencial para comprometer rendas futuras”, alerta.

Segundo o especialista, essas mudanças acabaram induzindo um comportamento mais cauteloso por parte das famílias. Mesmo diante da expectativa de uma redução gradual dos juros, o crédito permaneceu caro e pouco acessível, enquanto a inflação, embora em desaceleração, continuava pressionando o orçamento doméstico. “Diante desse cenário, muitos brasileiros optaram por adiar projetos de maior porte, renegociar dívidas e buscar alternativas de crédito menos onerosas”, lembra Filipe.

“No campo dos investimentos, observou-se uma preferência clara por produtos de renda fixa e por estratégias voltadas à preservação do capital, refletindo uma postura mais conservadora e orientada à redução de riscos.”

A grande lição de 2025

Nesse sentido, o docente destaca que a principal lição de 2025 é que prever não é sinônimo de certeza. “Previsões econômicas jamais serão totalmente precisas, mas continuam sendo fundamentais para orientar decisões. Em um ambiente marcado por incertezas, a disciplina financeira e a educação econômica tornam-se indispensáveis, especialmente quando associadas à construção de reservas que funcionam como proteção em momentos de instabilidade.”

Ele reforça que a economia e a vida são cíclicas: “Há períodos de alta e de baixa; maturidade financeira é aproveitar os bons momentos para se preparar para os inevitáveis momentos de dificuldade.”

… Que geralmente podem vir acompanhados por erros que custaram caro

Entre os deslizes mais comuns, Filipe cita não construir reserva mínima, usar o rotativo como extensão da renda e assumir parcelamentos longos sem planejamento. “Soma-se a isso a adoção de expectativas excessivamente otimistas quanto ao comportamento futuro dos juros. Esses padrões de decisão fragilizaram o orçamento doméstico e ampliaram a vulnerabilidade financeira justamente em um ano que exigia maior cautela.”

É por isso que o principal alerta de Filipe para 2026 é com a naturalização do endividamento. “Quando a dívida passa a integrar o orçamento como algo permanente, perde-se gradualmente a noção de risco e a capacidade de ajustar os gastos diante de imprevistos. Essa prática reduz a flexibilidade financeira das famílias e cria uma vulnerabilidade estrutural, especialmente em um país marcado por oscilações econômicas frequentes e por cenários que exigem rápida adaptação.”

Pensando nisso, o docente aponta que as práticas mais eficazes continuam sendo as mais simples para a saúde financeira ao longo de 2026. “Fazer uma reserva de emergência, acompanhar o orçamento, comparar taxas, ter diversificação nos investimentos e metas claras. Consistência vale mais do que ousadia. Não existe pequeno aporte com retorno rápido, elevado e garantido. Promessas assim devem ser encaradas com desconfiança.”

E um lembrete essencial para começar bem 2026:

“Faça um diagnóstico honesto: quanto você ganha, deve e gasta. Depois, defina metas objetivas e um método simples e contínuo de acompanhamento. Planejamento não se sustenta no entusiasmo de janeiro, mas na constância das pequenas decisões diárias. Investir se tornou fácil; difícil é selecionar informação de qualidade e entender riscos. Na dúvida, busque orientação qualificada. A vida financeira mais equilibrada e sustentável se constrói em um processo cotidiano.”