Setembro Amarelo: como ajudar uma pessoa que está pensando em suicídio

O suicídio é uma questão de saúde pública e pode ser prevenido, principalmente se as doenças mentais, um de seus fatores de risco, forem acompanhadas e tratadas adequadamente. Segundo a cartilha Como Ajudar?, produzida pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), nem todas as pessoas diagnosticadas com alguma doença mental terão comportamento suicida. No entanto, quase todas as pessoas que cometeram suicídio (98,6%) possuíam algum transtorno, como depressão, transtorno de humor bipolar, alcoolismo e abuso/dependência de outras drogas, transtornos de personalidade e ou esquizofrenia.

“Os transtornos psiquiátricos ainda são um tabu muito grande em nossa sociedade, pois as pessoas não têm por hábito cuidar da saúde mental. A pandemia da covid-19 ajudou a se falar mais nesse assunto, mas o brasileiro, que vive em um país com sol o ano inteiro e é uma população muito afetiva, não se permite falar que está triste. Vivemos em uma sociedade em que as pessoas têm que estar bem o tempo inteiro”, aponta Eduardo Ceotto, psicólogo do Instituto Acalanto.

“Por isso, é importante estar atento aos sinais que a pessoa dá, como mudanças drásticas de humor – muito feliz em um dia e depois totalmente desencorajado em outro –, perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, ter pensamentos obsessivos, falar sobre suicídio (ou frases relacionadas, como não aguento mais viver, sinto uma dor que não passa, nada mais faz sentido)”, alerta a psicóloga, psicoterapeuta e analista bioenergética Lúcia Magano.

  • Em primeiro lugar, ouça com atenção o que a pessoa está sentindo

  • Não julgue, não tenha preconceito

  • Não dê conselhos: “você precisa sair mais de casa”, “você precisa esquecer isso…”

  • Demonstre que é alguém de confiança

  • Não faça comparações

  • Não mude de assunto, nem faça comentários do tipo: “anima-te”, “vai correr tudo bem”

  • Não ria ou faça piadas

  • Não hesite em questionar aberta e diretamente a ideia de suicídio: “você pensa em morrer?”

Tratamento é indispensável

O diálogo com a família e amigos é essencial, mas não é somente ele que pode ajudar a evitar que uma pessoa cometa suicídio. Em muitos casos, será necessário realizar o acompanhamento com um psicólogo ou até com um médico psiquiatra, que pode indicar a utilização de medicamentos. “Nesse caso, é fundamental buscar um profissional especialista no tema, que seja registrado nos conselhos de classe e que atenda aos pré-requisitos para lidar com esse tipo de problema”, alerta Eduardo. “Um profissional malformado acaba prejudicando a saúde mental da pessoa.”

Mapa da Saúde Mental reúne serviços públicos de saúde mental disponíveis em todo Brasil, bem como serviços de acolhimento e atendimento gratuitos ou voluntários realizados por ONGs, instituições filantrópicas, clínicas escola, entre outros. Já o Centro de Valorização da Vida (CVV) é um serviço de apoio emocional gratuito e realizado por voluntários via telefone, chat ou e-mail.

Setembro (o ano inteiro) Amarelo

Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza o movimento Setembro Amarelo, que tem como objetivo conscientizar sobre a prevenção do suicídio, além de quebrar o tabu que ainda cerca o tema. O mês foi escolhido porque no dia 10 é celebrado, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. “A partir do momento que se fala mais sobre o assunto, as pessoas ficam mais conscientizadas e isso é uma forma de prevenção. Cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar da saúde física”, destaca Lúcia. “Mas é preciso ir além e trabalhar ao longo do ano inteiro sobre o tema”, complementa Eduardo. “É preciso levar o discurso do cuidado com a saúde mental para dentro das escolas, quebrando o tabu de não falar sobre sentimentos.”

Em 2022, o lema da campanha Setembro Amarelo é A vida é a melhor escolha. No site https://www.setembroamarelo.com/, estão disponíveis diversos materiais de apoio sobre a prevenção do suicídio. Informe-se e ajude a falar sobre o tema sem tabu.

Outra instituição que também realiza diversas ações para conscientização e prevenção do suicídio é a Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do suicídio (ABEPS), entidade fundada em 2015 com o objetivo de preencher uma lacuna no Brasil, único país do mundo que não tinha uma instituição nacional que reunisse profissionais e pesquisadores sobre o tema.

Eduardo Ceotto, psicólogo do Instituto Acalanto, é mestre e doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo.

Lúcia Magano, psicóloga, psicoterapeuta e analista bioenergética, que atua com atendimento de crianças e pré-adolescentes, além de ministrar aula de formação para terapeutas.