30 anos: um giro pela história da Funsejem e da previdência

Como vocês estão acompanhando, desde o início do ano, o Futuro On-line está apresentando conteúdos especiais – Funsejem 30 anos de estrada e  30 anos: o que é liberdade financeira para você – para celebrar os 30 anos da Funsejem. Continuando essa temática, entrevistamos Paulo Pisauro, diretor da Funsejem de 2001 a 2002 e superintendente de 2002 a 2014, e Alessandra Cardoso, que atuou para a Fundação como consultora de investimentos de 2003 a 2013, para relembrar a trajetória de fomento à educação financeira e previdenciária da Fundação Sen. José Ermírio de Moraes, bem como para a construção de um futuro com mais liberdade e tranquilidade financeira que a previdência complementar fechada tem proporcionado no Brasil.

“Na época que a CBA passou a patrocinar o plano Votorantim Prev, eu atuava como diretor da empresa e dr. Antônio Ermírio de Moraes, presidente da Companhia Brasileira de Alumínio à época, resistia um pouco à adesão da CBA e uma das condições para a adesão foi a de eu atuar na diretoria-executiva da Funsejem”, relembra Paulo. “Essa condição foi um presente incrível que ganhei em minha vida. Eu não sabia muito bem como funcionava um fundo de pensão, mas fui muito bem recepcionado pelo Nelson Shimada (ex-conselheiro deliberativo da Funsejem), Valdir Roque (então diretor superintendente) e o José Serafim Freitas (gerente na ocasião), que continua na Fundação até hoje, atuando como Diretor-Executivo, e por toda equipe. Aos poucos, fomos construindo uma grande parceria que rendeu resultados importantes para a entidade, para os planos e, claro, para os participantes.”

Alessandra também lembra com carinho do tempo em que prestou serviços à entidade como consultora. “A Funsejem faz parte de um momento de minha vida que recordo com muito carinho. Eu aprendi muito nesse período. O Paulo (Pisauro) sempre me trazia desafios estimulantes e juntos ajudamos o plano e o patrimônio a evoluir.”

Leis e Resoluções

A Resolução CMN 2720, de 2000, foi considerada um importante avanço legal no regime de previdência complementar fechado. “O grande marco dessa Resolução foi estabelecer que os fundos de pensão realizassem a gestão dos recursos com base no passivo de cada plano de benefício e não apenas nas questões macroeconômicas”, destaca Alessandra. “Além disso, também ampliou a governança das entidades instituindo a criação de políticas de investimentos.”

Outra evolução regulatória importante foi a Resolução CGPC nº 13, de 2004, pois trouxe determinações que aperfeiçoaram a gestão das entidades, abordando questões relacionadas à composição da estrutura de governança, aos cuidados para a gestão de riscos e à transparência na divulgação de informações.  “Me lembro que essa Resolução gerou certo reboliço no segmento na época, pois todas as entidades tiveram que estabelecer parâmetros internos e boas práticas de gestão no dia a dia da entidade”, aponta a Alessandra. “Além disso, as entidades tinham que estar preparadas para identificar, analisar, tratar e monitorar os possíveis riscos. A resolução trouxe para as entidades que já possuíam um controle interno, a oportunidade de aprimorar seus processos e, para as que não tinham, deu o start necessário para criá-las. Considero que o início dos anos 2000 trouxe um crescimento e profissionalização para as entidades devido as essas mudanças regulatórias.”

Sistema Multicotas e Perfis de Investimentos

Comprometida com as boas práticas, a Funsejem foi estruturada para que a gestão dos planos das empresas patrocinadoras deixasse de ser realizada exclusivamente por consultorias. Por isso, a partir de 2001, a Funsejem passou a fazer a administração de processos como a arrecadação e alocação de contribuições ao plano, o pagamento de resgastes, aposentadorias, entre outros.

Já em 2005, o plano Votorantim Prev é lançado, reunindo os 6 planos existentes à época VCPREV, VCPPREV, METAISPREV, CBAPREV, CLFPREV e Agro-QuímicaPrev, apenas o VCNE permaneceu independente. Um dos grandes marcos do Votorantim Prev é o sistema de perfis de investimentos Multicotas. O sistema concedeu ao participante a oportunidade de escolher o seu grau de tolerância ao risco na hora de investir. “No início, a Funsejem trabalhava com um único perfil de investimentos para todos os participantes, o que gerava certa frustração nos participantes, pois havia aquele que queria assumir mais riscos, enquanto o outro queria ser o mais conservador possível”, lembra Paulo. “Pensando em atender a essa demanda, criamos os perfis de investimentos conservador, moderado e agressivo. A implantação exigiu muita coragem e considero que foi um dos maiores desafios que tive enquanto diretor da entidade, pois tivemos que realizar desde a adaptação do regulamento do plano, da política de investimentos até as questões técnicas para controle e gerenciamento dessa nova estrutura.”

Passados alguns anos, a estratégia dos perfis de investimentos se mostrou totalmente eficaz e mais uma vez a Funsejem inovou, lançando o perfil superagressivo em 2010.

Criação da Previc

A Superintendência Nacional de Previdência Complementar, Previc, foi criada em 2014. Para Alessandra, essa iniciativa foi mais um avanço que garantiu transparência e regulação para a previdência complementar fechada. Antes da Previc, as funções de supervisão e fiscalização das entidades fechadas de previdência complementar eram feitas diretamente pela Secretaria de Previdência Complementar (SPC)”, lembra. “Com a criação do órgão, essa função ficou a cargo da Previc, trazendo mais transparência para o segmento. Depois, vieram as parcerias com a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), com a Cetip (Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos) e isso aumentou a governança das entidades, bem como a gestão de investimentos como um todo.

Paulo destaca que a criação da Previc também foi importante para organizar as ações de educação financeira e previdenciária da Funsejem, que foram reunidas sob diretrizes de um programa validado pelo órgão regulador. “Estabelecer uma comunicação clara, direta e transparente com os participantes sempre foi um dos pilares da Funsejem. Além de informar sobre as questões técnicas do plano, sempre buscamos facilitar o entendimento sobre os dados econômicos, retorno dos investimentos etc.”

A área de Comunicação da Funsejem foi estruturada em 2001, instituindo canais regulares para a divulgação e o relacionamento com o participante. O jornal Futuro, na época era impresso. Depois a publicação ganhou também uma versão on-line, que segue até hoje no ar.  Além do Futuro, os participantes contam também com SMS para o recebimento de informações curtas e rápidas. Tem o site do participante, o site da entidade e o canal de podcast, que sempre apresenta um bate-papo com especialistas e temas relacionados a investimentos, educação financeira e muito mais.

Adesão

Os planos de previdência fechados, como é o caso do Votorantim Prev, só existem porque os colaboradores, além das patrocinadoras, enxergam a relevância deste benefício para o planejamento financeiro de longo prazo. Portanto, Paulo afirma que incentivar a adesão sempre foi um de seus principais objetivos como diretor da Funsejem. “Eu ficava inconformado quando via que algumas patrocinadoras estavam com baixa adesão. Por isso, sempre busquei estratégias, como realizar campanhas de adesão nas empresas, para que aqueles que ainda não tivessem aderido ao plano tivessem a oportunidade de conhecer melhor a previdência privada corporativa, enxergando a superioridade deste benefício, que agrega muito mais do que um convênio médico, um vale-refeição, alimentação. Ele é um benefício que nos resguarda no futuro, pois não dá para viver somente com o INSS”, ressalta.

Alessandra acredita que hoje em dia os brasileiros já possuem mais conhecimento sobre investimentos e previdência privada, mesmo assim, a adesão de planos corporativos fechados, ainda é relativamente baixa. “Acredito que com a resolução (Resolução CNPC/MPS 60/2024), que entrou em vigor no início de março, esse cenário vai mudar, pois agora será permitido praticar a adesão automática aos planos de previdência complementar”, aponta. “Mas ainda falta instituir a obrigatoriedade para que toda empresa oferte planos de previdência a seus colaboradores, como é praticado no Reino Unido e em outros países da Europa. A previdência privada é um benefício tanto para empresa quanto para o funcionário. A empresa tem uma excelente ferramenta de retenção de talentos, enquanto o colaborador de isenção fiscal e formação de poupança futura.”

Para aqueles que ainda não aderiram ao plano Votorantim Prev, Paulo e Alessandra aconselham: Cada um terá um futuro, mas independentemente disso, penso que é uma obrigação a pessoa ter uma reserva, como o plano da Funsejem, para a fase da aposentadoria”, indica Paulo. A previdência complementar será cada vez mais importante para o projeto de futuro e quando se é jovem, o horizonte de contribuição é maior, o que permite correr mais riscos.  Por isso, fazer parte de um plano de previdência corporativa faz uma enorme diferença em sua vida. O planejamento é um hábito que deve ser cultivado diariamente”, complementa Alessandra.

Alessandra Cardoso tem mais de 20 anos de experiência no mercado de previdência complementar e atualmente trabalha como consultora de investimentos no The Pensions Regulator (TPR) no Reino Unido. Além disso, também é membro independente do Comitê de Riscos da Petros e da banca avaliadora de certificação por experiência do ICSS. Até dezembro de 2021 era Chief Investment and Risk Officer do fundo de pensão da Nestlé no Reino Unido. É bacharel em Física pela Universidade de São Paulo (USP), com especialização em Automação e Controle na Engenharia Elétrica na Escola Politécnica da USP e MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios pela FGV.

Paulo Pisauro atua nos últimos 10 anos como membro de Conselhos de Administração, Comitês de Auditoria, Conselho Fiscal, consultor e diretor em empresas e entidades dos mercados de seguros, serviços, telecomunicações e infraestrutura do mercado financeiro. Na Votorantim, destaque para o cargo de diretor administrativo financeiro da CBA, cumulativo em outras empresas do grupo, como a Metalúrgica Atlas, dentre outras na área de energia. É pós-graduado em contabilidade, auditoria, controladoria e administração. Possui qualificação técnica como membro de Comitê de Auditoria pelo IBGC, além de diversas especializações com foco em governança.