A importância da educação financeira

A educação financeira é primordial para se construir uma nação rica, pois a riqueza de um país não está apenas na soma de seus bens e serviços, isto é, o PIB – Produto Interno Bruto.

“Na verdade, se a população não estiver rica, a nação continuará a enfrentar problemas econômicos. O que a gente precisa na realidade é ter um país com uma população com um poder aquisitivo maior e para isso, as pessoas precisam poupar”, afirma o coordenador do curso de Gestão Financeira da FGV, Ricardo Teixeira.

Ricardo Teixeira, coordenador do curso de Gestão Financeira da FGV.
Ricardo Teixeira, coordenador do curso de Gestão Financeira da FGV.

O professor ressalta que o excesso de informação e até mesmo a idealização da felicidade obtida por meio do consumo podem dificultar o hábito de poupar e de estabelecer uma disciplina financeira, sem gastar além do que se ganha e ainda economizar para o futuro. “A maioria dos brasileiros possui renda inferior à informação que recebe sobre a possibilidade de consumo. Com isso, são criadas fantasias sobre uma felicidade que está atrelada ao comprar algo. As pessoas ficam naquele dilema entre se endividar para poder, teoricamente, ter acesso à felicidade ou não comprar e viver de acordo com o que se ganha”, aponta Teixeira.

“Não é que as pessoas não possam consumir, mas é preciso entender que a melhor maneira para atingir os sonhos, é não criar problemas financeiros – se endividar – no presente e futuro.”

A saída para isso é o consumo de forma responsável e dentro das possibilidades financeiras de cada um. “As pessoas não podem fazer um sacrifício para demonstrar uma capacidade financeira que elas não têm para usufruir um serviço ou comprar um produto. É preciso analisar as consequências que esse consumo pode trazer para o amanhã”, alerta Teixeira.

Uma questão de saúde

A falta de controle sobre as finanças não é um problema exclusivo do Brasil, é uma dificuldade global expandir a alfabetização financeira das pessoas, fazendo que elas construam uma relação saudável com o dinheiro. O reflexo disso é uma bola de neve, que compromete a relação familiar, comportamento no trabalho e até mesmo a saúde do indivíduo.

Um levantamento realizado no Reino Unido – The Employer’s Guide to Financial Wellbeing 2019-2020 – constatou que 36% dos trabalhadores têm preocupações financeiras. Pessoas com a vida financeira desorganizada têm 4,1 vezes mais chance de ter ataques de pânico e 4,6 vezes mais potencial de sofrer de depressão na comparação com os pares com a vida financeira estabilizada, o que impacta diretamente na produtividade no trabalho.

“Uma pessoa sem preocupações financeiras, ela é mais produtiva. E é justamente com educação e acesso à informação de qualidade sobre o tema que é possível aprender a organizar a vida financeira”, destaca Teixeira.

Sempre é tempo para aprender

Aprender a controlar as finanças parece algo difícil e, muitas vezes, ameaçador. Mas, assim como ler e escrever se tornam mais fáceis com o passar do tempo, virando algo automático, o mesmo acontece com a educação financeira. “O conceito básico da educação financeira é compreender que você tem um determinado valor, seja ele adquirido por meio do trabalho ou no caso das crianças, mediante à mesada, disponível para gastar. Por sua vez, os gastos têm que caber na sua receita, isto é, o salário ou mesada. Para isso, é preciso fazer o que for preciso para cortar despesas ou identificar alguma forma de aumentar a sua receita. E uma das formas para aumentar a renda é poupando”, explica Teixeira.

Mesmo quem acredita ser tarde demais para aprender a controlar as despesas, o professor garante que sempre é tempo para mudar hábitos.

“O ideal seria que esse ensinamento começasse o mais cedo possível, mas isso não quer dizer que uma pessoa que não teve acesso a essa informação quando criança ou na juventude não possa reaprender e mudar seu estilo de vida. O apoio da família é muito importante neste momento, pois o gasto é uma recompensa para si mesmo e para aqueles que você ama. Por isso, o envolvimento de todos para redefinir a matriz de gastos é fundamental”.

Outro ponto que Teixeira destaca é que a educação financeira precisa ser algo constante na sociedade, pois há sempre pessoas que precisam aprender ou reaprender. “A informação de qualidade precisa ser gerada pelos governos, escolas, empresas e imprensa, lembrando a importância de consumir de forma responsável, controlar as finanças e poupar para o futuro, pois vamos continuar a ser bombardeados diariamente pelas possibilidades de consumo”, finaliza.