Enfim, fechamos o primeiro semestre, o mais atípico dos últimos tempos em todos os aspectos. Inclusive nos investimentos, que passaram a ser acompanhados de maneira muito mais intensa, com foco em revisões de estratégias e ajustes de posições para a captura das oportunidades que sempre surgem entre as tensões de mercado.
Pelo menos é assim que Mayara Petreche descreve a atuação do Itaú Asset Management neste período de turbulência. Gerente de Relacionamento do banco, Mayara também fala na entrevista a seguir da boa surpresa que foi o encerramento do terceiro bimestre, das perspectivas para os próximos meses, e da importância da diversificação dos investimentos, mesmo em uma carteira de renda fixa.
3º bi: o alto risco se recupera
Tal como em maio, junho continuou sendo super positivo para os ativos de risco. O Ibovespa, principal índice de ações da nossa Bolsa de Valores, valorizou de forma bastante expressiva, com 8,57% e 8,76% nesses dois meses respectivamente. O índice S&P (índice acionário de bolsas norte-americanas) também valorizou. A gente tem acompanhado o desempenho do mercado de alto risco do exterior e percebe que ele está bem em linha com a abertura das economias. Na Europa, por exemplo, temos visto sucesso na reabertura, apenas com algumas preocupações pontuais, mas nada que aponte para uma segunda onda da covid-19. E mesmo nos Estados Unidos, que têm apresentado um crescimento no número de casos da pandemia, em nossa visão é mais em decorrência de um contágio tardio nos estados que ainda não tinham passado pela primeira onda. O bom da dinâmica positiva do exterior é que ela atinge os preços do mercado local.
Renda fixa ativa
Nossa estratégia hoje é trabalhar a renda fixa conservadora, mas com flexibilidade de atuar em outras classes de ativos também, como moeda e títulos do Tesouro americano. É interessante ter investimentos descorrelacionados com as posições do mercado local, porque assim conseguimos proteger o portfólio em momentos de grande aversão ao risco. Essa flexibilidade, aliás, foi 100% necessária para que conseguíssemos segurar os impactos negativos de março que atingiram praticamente todas as aplicações financeiras.
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Perfis de investimentos Funsejem
Conservador
Moderado
Agressivo
Superagressivo
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Junho
2020
-
Janeiro a junho
2020
Na onda do pré e da inflação
Nós estamos com um viés positivo para os papéis de inflação desde o final de junho, porque a taxa básica da economia brasileira, a Selic, que estava em 3,75% no começo de maio, já está em 2,25% hoje e com espaço para cair mais. O cenário base com o qual estamos trabalhando é de uma Selic em torno de 1,75% para o final de 2020.
Nós também trocamos parte da exposição pré-fixada de curto prazo para os ativos de inflação porque temos observado uma pressão inflacionária na parte mais volátil, mais sensível dela, como o setor de alimentos. Já nos papéis pré-fixados de longo prazo, estamos atentos a algumas novidades e atuações táticas como para janeiro de 2025, mirando distorções de preço.
Acompanhamento: palavra de ordem
Aqui, nós realizamos todos os dias uma breve conferência da gestão, e semanalmente nós temos as discussões do comitê de alocação, que tem se reunido mais frequentemente ao longo desse período de turbulência. O objetivo é definir posições e estratégias para capturar tanto as oportunidades advindas de mudanças mais estruturais, como as trazidas pontualmente pela volatilidade. É uma medida necessária, pois continuamos em um ambiente conflituoso, em especial no âmbito nacional, nas relações entre os poderes. A turbulência na comunicação entre o executivo, o legislativo e o judiciário lança um pouco de incerteza sobre a concretização das políticas governamentais.
Atividade econômica e PIB
Falando sobre atividade econômica, estamos com um cenário base de PIB negativo em 5,5%, ou seja, estamos mais otimistas que o mercado em geral. E isso porque quando a gente olha para os dados que surgiram já em maio, percebemos que os resultados que vieram ficaram acima do que todo mundo tinha precificado. Ou seja, o segundo trimestre foi muito ruim, mas não tanto quanto o esperado. Os níveis de confiança da indústria, do consumidor, da construção estão subindo em patamares baixos, mas estão mostrando recuperação, então a expectativa é de que o ano feche ruim, mas com um viés de alta para esse 5,5% de PIB negativo, embora não tenhamos feito revisão para esse cenário.
O risco de ser só CDI
O CDI está muito espremido (2,25% ao ano), então para os investimentos de longo prazo, a gente acredita ser muito arriscado contar só com posições baseadas nele. Principalmente porque há boas oportunidades no exterior e até mesmo na renda variável local. Apesar da volatilidade mais alta nessas duas classes de ativos, quando analisamos o portfólio como um todo, a descorrelação entre esses dois mercados e a perspectiva de longo prazo é muito positiva. Essa diversificação faz muito sentido tanto em termos de risco quanto em termos de retorno.
O verdadeiro papel do CDI
É importante ter no leque de investimentos uma boa fatia de recursos que não te traga o risco de perder, porque quando se trata de aposentadoria é preciso haver uma base de sustentação. A parcela de aplicações mais conservadoras, que acompanham o CDI, é importante para que você tenha um determinado rendimento mensal, que não varie muito a ponto de provocar buracos em algum dos períodos de recebimento da sua renda. Mas aqui estamos falando de quem já está consumindo a aposentaria.
As pessoas que estão formando patrimônio podem diversificar mais, porque elas não vão usar esse dinheiro no curto prazo. E como disse, é possível proteger uma carteira com outras posições. Muito do medo do investidor em entrar em mercados mais arriscados é pensar que em um mês ele terá rendimento de 10% e no outro poderá fechar no vermelho. Daí a necessidade de diversificar e investir em mercados diferentes, que atuem de forma oposta. Se eu adiciono no meu portfólio de renda fixa uma posição comprada em dólar, por exemplo, eu o protejo quando a economia brasileira não vai bem, porque os juros caem nessas situações, ao passo que a moeda americana se valoriza.
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Sempre alerta!
Quando o assunto é investimento, sua análise precisa se basear no momento pelo qual passa o mercado financeiro, nas características da aplicação, e na adequação ao seu perfil de investidor. Os desempenhos, sejam de sua carteira pessoal ou da sua modalidade de investimento no plano de aposentadoria da Funsejem, devem ser considerados apenas como referência de gestão, e não como fator determinante para sua escolha, pois resultados passados não garantem rentabilidade futura.