Mercado financeiro já sabe o que enfrentar em 2022

Um mercado complexo como há muito não se via. Impossível olhar para os últimos dois anos sem esta sensação. Em especial tratando-se de 2021, para quando já se esperava uma recuperação, em virtude do início da vacinação, e por se acreditar que a pior fase da pandemia de covid-19 já havia passado.

As expectativas, porém, não se confirmaram. Os meses de março e abril deste ano tornaram-se os mais críticos, voltando a restringir atividades e circulação. E embora atualmente, com o avanço da imunização, vivamos um período de maior controle da doença no Brasil, o aumento dos contágios no exterior, e o surgimento de variantes mostram que a pandemia ainda inspira cuidados, e assim será por um tempo difícil de precisar.

O jogo duro da inflação

A inflação foi outro fator de impacto negativo sobre a economia. Em trajetória crescente desde o final de 2020, ela deve encerrar 2021 e 2022 acima dos 10% (bem mais que os 4,52% de 2020). Ao menos esta é a previsão dos especialistas financeiros, divulgada no início de dezembro pelo boletim Focus, do Banco Central.

Para tentar freá-la, em março, o Comitê de Política Monetária começou a elevar a taxa básica de juros, a Selic, que estava em sua mínima histórica, de 2%, para o patamar atual de 9,25%. O remédio, no entanto, tem sabor e efeitos colaterais amargos. A alta dos juros faz com que o crédito tomado pelas pessoas físicas e jurídicas fique mais caro. Resultado, o consumo é desestimulado, bem como os projetos de expansão das empresas, e consequentemente a atividade econômica de um modo geral.

É importante acrescentar um parêntesis. A inflação é mais grave em economias emergentes, caso do Brasil, mas não uma exclusividade delas. Países desenvolvidos também a enfrentam, por diversos fatores, muitos com origem na pandemia. Um exemplo simples é a crise na cadeia global de fornecedores de suprimentos, com efeitos sobre a indústria automotiva, dentre outras, e que aquece os valores nos respectivos setores.

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Desequilíbrio fiscal e eleições

Se a inflação é global, há uma lição de casa bem brasileira, há muito tempo não resolvida, e que continuará como pedra no sapato em 2022: o desequilíbrio fiscal. Ele nada mais é que uma conta deficitária, em que os gastos públicos superam as receitas. Quando isso acontece, quase não há o que investir em infraestrutura, saúde e educação. Ou seja, o desequilíbrio fiscal é um limitador do crescimento do país, para o qual, aliás, o mercado não espera muito no próximo ano. A projeção para o PIB (Produto Interno Bruto), que significa a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, e mede a evolução da economia, é de 0,51%, também de acordo com o Focus.

Há ainda que se falar na corrida eleitoral. Com um ano de antecedência ela já chegou a agitar o mercado financeiro agora em 2021, com impactos na variação dos índices de ações da Bolsa de Valores, mesmo considerando que só o que temos são expectativas em torno de candidatos, confirmados por seus partidos ou em potencial. Historicamente, ano de eleição presidencial é conturbado, de muita especulação, e paralisia nas questões importantes do país.

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A recuperação da renda fixa

Com esse pano de fundo delicado, é de se esperar para a gestão das aplicações financeiras em 2022 muita paciência, persistência e jogo de cintura. A taxa básica de juros Selic elevada acende a luz para o investidor. Ele começa a voltar ao segmento de renda fixa, de natureza menos arriscada em papéis como os pós-fixados, que não se comportam com fortes oscilações, já que a remuneração paga acompanha a variação da Selic. Os títulos mais sensíveis às mudanças de taxas também se valorizaram agora no fim do ano, e devem servir para diversificar carteiras mais conservadoras.

No caso da Funsejem, o perfil conservador seguirá 100% renda fixa em 2022, como você pode conferir em matéria específica sobre a Política de Investimentos do próximo ano, aqui. A composição do perfil prevê ativos indexados ao CDI, títulos públicos de inflação, como NTNBs, além de crédito – debêntures, letras financeiras, dentre outros. As aplicações CDI, índice que reflete os rendimentos da renda fixa conservadora, serão majoritárias, exatamente por serem as de menor risco e volatilidade. Mas os demais papéis também contam com volatilidade e risco controlados. Para aquisição de debêntures, por exemplo, é avaliado o rating (classificação, espécie de nota) do emissor do papel, ou o rating do ativo em si. Papéis sem classificação ou abaixo da classificação “Investment Grade”, considerados de maior risco de crédito, estão limitados a 5% de exposição. E ainda assim apenas para acomodar papéis que sofreram rebaixamento em sua nota.

Renda variável sob pressão

À medida que a renda fixa cresce, os ativos de renda variável, caso das ações em Bolsa de Valores, sob forte volatilidade atualmente, perdem atratividade na visão do investidor comum. Apesar desta reação, o segmento de alto risco é fundamental do ponto de vista de diversificação. Além disso, o risco de uma carteira com renda variável também pode ser reduzido, com câmbio, por exemplo. Há uma correlação benéfica entre estas duas aplicações, quando uma cai, a outra se valoriza, minimizando perdas. Desta forma, admitir no portfólio opções atreladas à nossa bolsa B3, e ao mesmo tempo ao mercado externo, como fundos BDR, que recebem rentabilidade do câmbio, aumentam as chances de um resultado que supere no longo prazo os juros mais confortáveis do CDI. É por esse motivo aliás, que para 2022 a exposição ao segmento exterior nos perfis mais agressivos da Funsejem foi elevada na Política de Investimentos.

Ainda sobre a Bolsa, nunca é demais ressaltar sua efetividade no longo prazo. Quando se tem 10, 20 anos pela frente, há tempo para avaliar, aumentar e diminuir exposição. Quem quer ganhar na renda variável no curto prazo corre um risco grande de perder. E quando o investimento de alto risco envolve previdência, que não tem liquidez imediata, fugir da oscilação e de um resultado negativo é impossível. Mesmo com a flexibilidade da troca de perfil em qualquer mês, prevista no regulamento dos planos de previdência da Funsejem, ela só se realiza após o fechamento contábil da entidade. O período de alteração, que pode ser de 30 a 60 dias, é curto, mas suficiente o bastante para mudar muita coisa no mercado de ações.

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Devagar se vai ao longe

O investidor precisa do autoconhecimento, precisa saber quais são suas convicções, e se está tranquilo para correr um risco maior na tentativa de ter o resultado lá na frente. Apesar do momento adverso, as empresas continuam lutando para progredir e vencer. Aquele que acredita nessa recuperação assume o risco da instabilidade cíclica, de forma consciente. A decisão, porém, deve estar atrelada ao período em que se pretende usufruir a reserva. Quem está próximo da aposentadoria precisa avaliar até que ponto o risco convém, porque não dá para imaginar em aumentar o risco agora para colher os frutos logo em seguida.

As turbulências que afetam o mercado financeiro, principalmente no segmento de renda variável, que mais tem assustado neste período de pandemia, são comuns, fazem parte do jogo. E há, inclusive, muitos que investem nestes momentos de baixa, pois quem está com foco no longo prazo, e entende que as características de determinados papéis são favoráveis, acaba considerando o preço barato. No entanto, é preciso ter em mente que a recuperação do patrimônio é muito mais lenta.

Um planejamento de reserva financeira para a aposentadoria, que se constrói em anos, não se forma nem se dissipa em um período curto ruim. Mas isso não significa ficar inerte. O que 2022 pede é que você analise o quanto antes, mas com calma, o seu perfil, o estágio de sua poupança, a data em que pretende resgatá-la para sua aposentadoria ou outro projeto. Com base nessas ponderações, escolha, dentre as opções oferecidas pelo plano, aquela que mais se encaixa às metas futuras do investimento que você e sua empresa fazem mirando o futuro. O próximo ano será, sim, desafiador. As cartas estão na mesa, mas as estratégias definidas, e os gestores preparados para os diferentes cenários. A hora é de manter a disciplina de poupança e seguir adiante.

  • Sempre alerta!

    Quando o assunto é investimento, sua análise precisa se basear no momento pelo qual passa o mercado financeiro, nas características da aplicação, e na adequação ao seu perfil de investidor. Os desempenhos, sejam de sua carteira pessoal ou da sua modalidade de investimento no plano de aposentadoria da Funsejem, devem ser considerados apenas como referência de gestão, e não como fator determinante para sua escolha, pois resultados passados não garantem rentabilidade futura.