O que é estagflação e como ela pode afetar os investimentos

A retomada da economia do Brasil e da vida dos brasileiros está encontrando algumas pedras no caminho, como diz o poeta Carlos Drummond de Andrade em seu poema No Meio do Caminho.

Algumas destas pedras estão relacionadas ao acontecimento da pandemia de covid-19, pois após um longo período de restrições de circulação e consumo, as economias ao redor do mundo estão retomando a todo vapor, principalmente nos Estados Unidos, na Europa e na China. O Brasil também vislumbra a retomada, no entanto, a alta demanda global por produtos e serviços tem gerado vários choques de oferta e, consequentemente, elevando a inflação como explica João Fernandes, sócio e economista da Quantitas, gestora de recursos financeiros. “Não é só o crescimento da demanda que está pressionando a inflação para cima, uma restrição produtiva também contribui para este cenário”, aponta.

João Fernandes, sócio e economista da Quantitas.
João Fernandes, sócio e economista da Quantitas.
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Estagflação

Diante da escalada da inflação que registrou 9,68% no acumulado dos últimos 12 meses, a reação do Banco Central (BC) foi elevar a Selic para 7,75% ao ano (a.a.), em outubro. Esta foi a sexta alta consecutiva e o BC já deu indicações de que novas elevações vão acontecer até o fim do ano. A expectativa é que a taxa básica de juros encerre 2021 em 8,25%, e a estimativa para o fim de 2022 é de 8,50% a.a.

Em consequência deste cenário, o mercado financeiro acendeu um alerta para uma situação que o Brasil não enfrentava desde 2015, a estagflação. A palavra tem origem do aportuguesamento do termo em inglês stagflation, que deriva da união entre stagnation e inflation. No português, seria da junção entre as palavras estagnação e inflação. Neste fenômeno, como o termo sugere, há uma estagnação econômica, uma disparada dos preços (inflação) e dos juros. Mas apesar do quadro de inflação acelerada e aumento dos juros, o Brasil não está enfrentando uma estagflação e Fernandes explica o porquê.

“O país está registrando crescimento e na estagflação não há crescimento econômico. A nossa projeção é que o PIB (Produto Interno Bruto) termine o ano em 5,5%. Boa parte disso está aliada à recuperação do emprego formal e ao aumento da demanda por serviços. Para 2022, também não acreditamos que o país vai enfrentar uma estagnação, o crescimento vai desacelerar, mas não a ponto de ser caracterizado com uma estagflação. A nossa expectativa para o PIB é de 1,9% no ano que vem.”

O economista destaca que esta projeção de crescimento para o PIB em 2022 é reflexo do consumo de serviços ainda no primeiro trimestre do ano. “Uma parte muito grande da população está com uma poupança maior do que no início da pandemia, mesmo nas camadas de mais baixa renda. As pessoas que conseguiram manter o emprego durante a pandemia e foram beneficiadas pelo auxílio emergencial, acumularam uma reserva, e isto vai financiar o consumo reprimido”, aponta Fernandes. “Agora, o segundo semestre será mais fraco porque esse efeito não vai gerar um crescimento persistente, mas é o suficiente para garantir uma alta do PIB. Quanto à inflação, seguirá alta, perto de 4,5%, pois ainda será um ambiente de restrições de oferta e demanda, não tão fortes quanto em 2021, mas ainda estará presente.”

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Investimentos

Neste sentido, se a inflação seguirá elevada e com altas de juros previstas para este e próximo ano, o investidor passa a ter um comportamento mais conservador. “Por exemplo, com a queda substancial da Bolsa de Valores B3 nas últimas semanas, os investidores migraram para ativos de renda fixa, isto é, que estão dando um retorno maior. Este é um ambiente bem conhecido no Brasil. Em 2016, tínhamos um país com juros muito elevados e uma parcela muito grande das alocações estava em renda fixa e em ativos que usufruíam destes juros. Mas isto é um limitador no desenvolvimento do mercado de capitais do país. Por isso, é preciso além de elevar os juros para controlar a inflação, ter uma política fiscal mais responsável e um ambiente político menos ruidoso. A Quantitas ainda tem uma visão construtiva para o mercado de ações, a Bolsa tem espaço para se recuperar, mas é um cenário difícil. O investidor tem que estar preparado para encarar com mais frequência uma volatilidade maior no mercado e nos investimentos como um todo”, finaliza Fernandes.

  • Sempre alerta!

    Quando o assunto é investimento, sua análise precisa se basear no momento pelo qual passa o mercado financeiro, nas características da aplicação, e na adequação ao seu perfil de investidor. Os desempenhos, sejam de sua carteira pessoal ou da sua modalidade de investimento no plano de aposentadoria da Funsejem, devem ser considerados apenas como referência de gestão, e não como fator determinante para sua escolha, pois resultados passados não garantem rentabilidade futura.