Temos que tomar a vacina da gripe também?

Nunca se falou tanto em vacinação como nos últimos tempos, em que a pandemia da covid-19 já contaminou mais de 136 milhões de pessoas e levou ao falecimento de 3 milhões de vidas ao redor do mundo. E, como sabemos, além do distanciamento social, do uso de máscara e da higiene das mãos, a única medida comprovadamente eficaz contra a infecção pelo novo coronavírus é a vacina, pelo menos até o momento.

No Brasil, até meados de abril, apenas 16% da população adulta havia tomado a primeira dose da vacina e quase 6%, a segunda dose. Ainda estamos, portanto, longe de atingir os 70% ou 80% da cobertura vacinal desejada para retomarmos a rotina de nossas vidas de forma mais tranquila.

Mas, mesmo diante de tantas preocupações impostas pela pandemia, não vamos esquecer de que existem outros agentes infecciosos que podem comprometer severamente nossa saúde, entre eles o vírus da influenza, que causa a gripe.

Para a médica sanitarista Karina Calife, professora da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, “é muito importante se vacinar contra a gripe, ainda mais agora que vamos entrar no inverno, um momento em que outros vírus respiratórios começam a circular.”

Segundo a médica, além do adoecimento pela própria covid-19, uma pessoa está sujeita a outras infecções, como a da variante H1N1, que também pode levar à síndrome respiratória aguda grave ou a algum tipo de complicação.

Dra. Karina Calife. Crédito da foto: João Quesado
Dra. Karina Calife. Crédito da foto: João Quesado

“Vamos lembrar que não é só a covid-19 que complica. Estamos numa pandemia, temos diminuição do acesso a leitos, UTIs, respiradores, medicamentos, é muito importante estarmos protegidos dos vírus para os quais já temos resposta”, enfatiza a dra. Karina.

"A vacina de gripe é muito segura e eficaz, e com ela diminuímos a circulação desses outros vírus que podem produzir agravamentos.”

Recomendações para se vacinar

“É preciso respeitar um intervalo de pelo menos 14 dias entre a aplicação da vacina da covid-19 e a da gripe, priorizando sempre a vacina do novo coronavírus”, explica a médica.

118-bemestar-img

No caso da Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, o intervalo entre a primeira e a segunda dose é de 21 a 28 dias, para melhor eficácia. Para quem está prestes a ser imunizado com ela, é recomendável tomar as duas doses antes da vacina da gripe. Os demais devem observar atentamente os intervalos, quando estiverem próximos de se vacinar com a Coronavac.

Já para o imunizante AstraZeneca, produzido pela Fiocruz, é possível tomar a vacina da gripe no intervalo entre as doses, sempre respeitando os 14 dias após a primeira dose. Isso porque o período entre as doses da AstraZeneca é de 90 dias.

“As pessoas que tiverem suspeita de covid-19 ou sintomas de outra infecção, principalmente se tiverem febre ou outra condição de adoecimento, devem adiar a vacinação da gripe até estarem recuperadas ou após o diagnóstico dessas questões”, esclarece a dra. Karina. “Não é só uma contraindicação, esta é uma precaução para minimizar o risco de disseminar a covid-19 para outras pessoas”, enfatiza a médica sanitarista.

A imunização da gripe oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é a trivalente, que cobre três cepas diferentes do vírus, e destina-se a pessoas pertencentes aos grupos prioritários (veja quadro abaixo). Para quem não integra esses grupos, recomenda-se a vacinação na rede particular ou conveniada, que pode oferecer também a vacina tetravalente, que imuniza um quarto tipo de vírus.

A Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza vai de 12 de abril a 9 de julho, de acordo com informe técnico divulgado pelo Ministério da Saúde (MS). Será realizada em três etapas (veja abaixo), mas estados e municípios têm autonomia para fazer alterações e ajustes, de acordo com as situações locais. Fique de olho no calendário de sua cidade.

Crianças de 6 meses a menores de 6 anos de idade, gestantes, puérperas, povos indígenas e profissionais da saúde.

Idosos com 60 anos ou mais e professores das escolas públicas e privadas.

Pessoas com deficiência permanente e doenças crônicas não transmissíveis, membros das forças armadas e de segurança, caminhoneiros, trabalhadores de transporte coletivo rodoviário, portuários, funcionários do sistema prisional, jovens de 12 a 21 anos sob medidas socioeducativas e população privada de liberdade.

No estado de São Paulo, a população quilombola integra o grupo prioritário junto com os povos indígenas na campanha de vacinação contra a covid-19 e provavelmente será integrada da mesma forma na imunização estadual.

Crianças com menos de 6 meses e pessoas com histórico de reação alérgica aos componentes da vacina.

Possíveis reações da vacina da gripe

Em geral, a vacina da gripe não causa reação. Quando há, são sintomas leves, como dor no local da aplicação, febre baixa ou uma leve dor no corpo.

“A vacina da gripe não causa reação adversa grave, a não ser em caso de alergia, em que há contraindicação”, diz a dra. Karina, referindo-se a eventos de choques anafiláticos após doses anteriores da vacina.

Segundo o informe técnico do MS, quem tem histórico de alergia a ovo também pode se vacinar, “sem necessidade de cuidados especiais”, desde que a reação a esse alimento for leve, do tipo urticária. Já para “pessoas que após ingestão de ovo apresentaram quaisquer outros sinais de anafilaxia (angioedema, desconforto respiratório ou vômitos repetidos), a vacina pode ser administrada, desde que em ambiente adequado para tratar manifestações alérgicas graves (atendimento de urgência e emergência). A vacinação deve ser aplicada sob supervisão médica, preferencialmente”, diz o mesmo informe.

“A vacina não causa gripe, o que pode acontecer é a pessoa já estar contaminada quando foi vacinada e então tem sintomas gripais”, declara a dra. Karina. Segundo a médica, daí surgem os rumores, infundados, de que a vacina produz gripe. “Isso não acontece, porque o imunizante é produzido com o vírus inativado”, conclui ela.