Os investimentos sob um cenário de guerra

O mercado financeiro já esperava 2022 como aquele ano repleto de lições de casa a fazer para que nós pudéssemos passar por ele de maneira melhor que nos dois últimos períodos. As instabilidades trazidas pelas especulações em torno das eleições presidenciais de outubro, o desequilíbrio fiscal, a renda menor, a atividade econômica tentando se restabelecer, e uma inflação que resiste a ser controlada estavam no radar de todos. Até que 24 de fevereiro acrescentou um componente desolador, o início da guerra entre Rússia e Ucrânia.

O evento tem duração imprevisível e consequências gravíssimas que ultrapassam os limites territoriais dos envolvidos. A perda de vidas, sem dúvida, é a pior delas. Mas os efeitos do conflito se espalham por diferentes âmbitos, atingindo, claro, os investimentos, tanto dos que têm projetos de curto prazo, como os que se planejam para um futuro mais distante, foco principal do benefício de previdência corporativo administrado pela Funsejem.

Em um primeiro momento, não houve no Brasil uma disparada do dólar, nem uma queda acentuada da Bolsa, como se poderia esperar. Ao contrário, o dólar vem caindo diariamente desde 1º de janeiro, quando estava em R$ 5,71, tendo fechado 4 de março, nono dia de guerra, em R$ 5,08.

No mercado acionário, os principais índices da B3, dentre eles o IBrX-100, referência da Funsejem nas carteiras de alto risco dos perfis moderado, agressivo e superagressivo, já vinham variando negativamente na última semana de fevereiro. No último dia de pregão daquele mês, que foi também o primeiro depois da invasão russa, curiosamente tanto o Ibovespa como o IBrX fecharam positivos, encerrando fevereiro com alta de 0,89% e 1,46%, respectivamente.

O que por enquanto tem acontecido aqui, na verdade, é a entrada de recursos de estrangeiros. Em janeiro, o montante foi de cerca de R$ 32,5 bilhões, a segunda maior entrada dos últimos 10 anos. Em fevereiro o valor aproximado foi de R$ 26 bilhões. De acordo com analistas econômicos, dentre os fatores que explicam este movimento está a distância geográfica do nosso país da zona de conflito, o que impõe um certo alívio aos investidores internacionais. Outro ponto é a atual taxa básica de juros brasileira, a Selic. Depois de registrar a mínima histórica de 2% em agosto de 2020, ela foi elevada de lá para cá até o patamar vigente de 10,75%, com expectativas de subir ainda mais. Juros como esses, sem dúvida, atraem investidores de países com taxas menores. As aplicações de renda fixa que acompanham a Selic voltam a ser procuradas.

O movimento é natural, mas não é possível determinar sua duração. O conflito armado ao qual assistimos deflagra inflação no mundo todo. Os países tentam se proteger elevando suas taxas de juros para conter e reverter este processo. A extensão da guerra, porém, pode inverter o cenário que hoje beneficia o Brasil. Os Estados Unidos, por exemplo, é bom lembrar, já têm programado um ajuste em sua taxa de juros. Ele estava previsto antes da guerra se concretizar. E quando uma economia forte eleva sua taxa, chama a atenção de quem quer, além de retorno financeiro, a solidez de uma potência como a norte-americana.

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Imprevisibilidade: única certeza

A imprevisibilidade da guerra é certa e angustiante. Da noite para o dia, decisões e declarações têm o potencial de colocar tudo, ou quase, do avesso. Já se esperava, nos primeiros dias de invasão, que o petróleo seria pressionado, pois a Rússia é um grande exportador. O barril (petróleo Brent), no dia 24 de fevereiro, estourou os US$ 100 pela primeira vez desde 2014. E não parou por aí. No primeiro fim de semana de março, líderes europeus e os Estados Unidos, por meio de seu secretário de Estado, anunciaram considerar a interrupção da importação do petróleo russo (já confirmada pela potência norte-americana), como forma de sanção ao país invasor. O resultado foi imediato, o barril beirou os US$ 140, caindo em seguida. Outro efeito foi a abertura dos mercados acionários internacionais e brasileiro no dia 7/03, operando no vermelho.

Inflação ainda a preocupar

Embora a alta do petróleo valorize essa comoditie, beneficiando a Petrobrás, que tem os papéis mais negociados na nossa bolsa de valores B3, ela é preocupante, visto que aumenta o custo de quem utiliza seu veículo, e de toda uma cadeia econômica que integra esse componente em sua produção ou serviço. O transporte é só um aspecto. À medida que demais outros são impactados, de novo, voltamos à temática inflação.

Ela continua sendo um inimigo a ser detido, pela natureza corrosiva que exerce sobre o poder de compra dos cidadãos, e sobre os ganhos das aplicações financeiras. Em 2022, os perfis de investimentos da Funsejem acumulam um retorno entre 1,56% e 1,67% no primeiro bimestre, conforme o perfil (confira a rentabilidade histórica dos perfis aqui). Os resultados superam a inflação desses dois meses, se considerarmos o IPCA de janeiro e a prévia do índice de fevereiro (IPCA-15), que resultam em 1,54%.

A notícia é boa, pois traz expectativas (a se confirmarem ao longo do ano) de ganho real, algo com o qual não pudemos contar em 2021, quando a inflação acumulou 10,06%, variação muito acima das aplicações de renda fixa, e mais ainda da renda variável, que amargou prejuízos.

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As aplicações em momentos de crise

Se é fato que investimentos conservadores passam a ser o destino dos que querem escapar das incertezas da economia global em tempos de guerra, não dá para desconsiderar por completo o papel da renda variável no médio e longo prazo, caso de quem poupa com fins previdenciários e tem apetite ao risco. Que aliás é amigo fiel da volatilidade, inerente às aplicações como o mercado acionário. A Bolsa está abaixo do seu potencial de ganhos, está barata e tende a seguir 2022 oscilando muito. Trata-se, no entanto, de um desempenho cíclico, que vai se recuperar no médio e longo prazo. Sempre vale lembrar que curto prazo não pode ser o foco de quem quer aplicar em renda variável. Aquele que no pico da pandemia da covid-19, e que agora com a invasão da Ucrânia pela Rússia se desfez totalmente de suas aplicações em bolsa de valores, muito provavelmente entrou nesse mercado sem ter de fato o perfil adequado para tanto.

São muitas as dificuldades que este trimestre vem apresentando. O risco de estagflação existe, sim. Ele já era aventado no final de 2021, como noticiamos na matéria da edição de novembro do Futuro On-line (aqui). Mas não é o caso de se jogar a toalha. Prova disso é a pesquisa semanal do Banco Central entre 100 instituições financeiras. Os dados mais recentes (7/03) podem não ser altamente animadores, mas também não prenunciam uma tragédia. A inflação, segundo os analistas de mercado, deve estourar a meta do governo (5%), chegando em dezembro em 5,65%. O patamar é alto, mas muito inferior ao de 2021. A Selic, um dos remédios para segurar o aumento de preços, também vai terminar o ano alta (12,25%), mas não piorou na visão das instituições, quando comparada ao último levantamento. As expectativas em torno do PIB (Produto Interno Bruto) continuam fracas, contudo, a previsão subiu de 0,30% para 0,42%. Quanto ao dólar, a cotação de fechamento em 2022 caiu de R$ 5,50 para R$ 5,40.

O longo prazo na prática

Um dos melhores aliados de um investimento previdenciário é sem dúvida o longo prazo, pelo poder que ele tem de dissipar as crises que se intercalam com os anos. Se consideramos os últimos 10 anos, participantes que poupam conosco desde este mesmo período têm seus saldos corrigidos com rentabilidade acumulada, entre 116% e 135%, dependendo do perfil no qual mantiveram seus recursos. Os valores estão alinhados ao ganho na Bolsa, que variou 120% pelo IBrX, e com o CDI, que apresenta resultado de 123% neste recorte de tempo. O mais importante, todos superam a inflação, que no período acumulou 81%.

Por isso, mais que tentar adivinhar o que está por vir no mercado financeiro, ou pior, migrar de perfil a cada mês, a fugir ou buscar um bom resultado, tome uma posição considerando o contexto de 2022. O ano sem dúvida terá oportunidades, mas permanecerá muito volátil, em especial nas aplicações de maior risco, e principalmente durante o conflito armado entre Rússia e Ucrânia. E isso sem falar dos desafios decorrentes de nossos problemas internos.

Se você tem tempo pela frente e compreende o período atual como uma alternativa para ganhos em investimentos de alto risco, a Funsejem tem perfis agressivos como opções. Por outro lado, se sua reserva está prestes a ser usada como resgate ou renda mensal, evitar as oscilações de curto prazo é uma questão a se analisar. O site da Funsejem te apoia com informações e simuladores neste sentido. Acesse-o para cuidar do seu saldo da forma mais adequada ao seu perfil e objetivos.

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  • Sempre alerta!

    Quando o assunto é investimento, sua análise precisa se basear no momento pelo qual passa o mercado financeiro, nas características da aplicação, e na adequação ao seu perfil de investidor. Os desempenhos, sejam de sua carteira pessoal ou da sua modalidade de investimento no plano de aposentadoria da Funsejem, devem ser considerados apenas como referência de gestão, e não como fator determinante para sua escolha, pois resultados passados não garantem rentabilidade futura.